Título: Reeleito, Aécio reafirma ser contra reeleição
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 16

'PSDB precisa externar um projeto para o Norte. O desempenho frágil do nosso candidato no Nordeste é em razão disto'

BELO HORIZONTE. Contrariando previsões de que não se empenharia para ajudar Geraldo Alckmin na disputa presidencial, o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves, surpreendeu a cúpula tucana. Entrou com tudo na campanha nos últimos dias e garantiu a Alckmin 40% dos votos válidos no estados. No primeiro pronunciamento depois da eleição, ontem de manhã, prometeu mais empenho no segundo turno, deixando claro, contudo, que seu compromisso com Alckmin tem a validade de um mandato.

- É pública e notória minha posição contrária à reeleição. Não é assunto para ser tratado imediatamente, mas no bojo da discussão da reforma política fatalmente será discutido. Não vejo que traga benefícios ao país. Prefiro um mandato de cinco anos ou um pouco maior sem reeleição, que me parece mais republicano e mais adequado.

Embora essa defesa ajude a alimentar as especulações de seus planos presidenciais para 2010, Aécio afirma que sua preocupação é honrar os votos recebidos dos mineiros:

- Entre políticos e jornalistas, há a tendência de se achar que logo depois de 2006 vem 2010. Hoje sou um feliz governador reeleito com uma votação histórica. Seria um enorme desserviço, até para nosso trabalho no segundo turno, anteciparmos o processo de 2010. Digo ainda que ninguém é candidato à Presidência porque resolveu ser. Uma candidatura presidencial é muito mais destino do que projeto, e eu não projeto isso sinceramente para mim.

"Sou um construtor de pactos, não um dinamitador"

De manhã, Aécio falou por telefone com Alckmin, se colocando à disposição para percorrer o país com o candidato. O governador está ciente de que o apoio poderá lhe render, no futuro, uma aliança estratégica numa eventual disputa com o governador eleito de São Paulo, José Serra. E mantém o discurso ponderado em relação ao presidente Lula.

- O governador de Minas fará o que estiver a seu alcance para que tenhamos uma disputa de projetos, e não pessoal. Farei a campanha ao lado do meu candidato sem precisar ofender ou atacar adversários. Nossa democracia é madura o suficiente, não podemos permitir que o Brasil viva permanentemente este clima pré-eleitoral.

Independentemente do resultado, Aécio diz estar disposto a procurar os demais governadores eleitos para discutir uma agenda consensual para o país.

- É possível sim que nós avancemos nas reformas independentemente de qual seja o resultado. As reformas que o Brasil precisa não são reformas de governo, são reformas de país. O Brasil precisará da reforma política, da reforma tributaria, precisará da complementação da reforma previdenciária, nada pode nos tirar desta direção. Eu sou um construtor de pactos, não um dinamitador.

O governador voltou a defender o que chama de nacionalização do PSDB.

- O PSDB precisa externar um projeto para o Norte do país. O desempenho frágil do nosso candidato no Nordeste é, na minha avaliação, em razão disto. Precisamos fazer esta mea culpa. Tem faltado ao PSDB uma presença mais nítida em determinadas regiões do país.

Embora tenha ressaltado que continua respeitando a história pessoal do presidente Lula, o governador reiterou suas críticas ao governo:

- As pessoas cansaram de ver tantas denúncias sucessivas. Houve um certo menosprezo pela qualificação dos agentes políticos e uma permanente tentativa de terceirização de responsabilidades com relação a todos estes acontecimentos.

É pública e notória minha posição contrária à reeleição. Não é assunto para ser tratado imediatamente, mas no bojo da discussão da reforma política fatalmente será discutido

Hoje sou um feliz governador reeleito com uma votação histórica. Seria um enorme desserviço, até para nosso trabalho no segundo turno, anteciparmos o processo de 2010

AÉCIO NEVES