Título: NEM FILHA E GENRO DE JEFFERSON SE ELEGEM
Autor: Paulo Marqueiro
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 19

Deputado cassado diz que doadores se afastaram com medo de uma perseguição do governo petista

Depois de admitir ter recebido R$4 milhões em recursos de caixa dois do PT, o ex-deputado Roberto Jefferson agora culpa a falta de dinheiro pela derrota nas urnas. Cassado em setembro do ano passado, após denunciar a existência do mensalão e confessar o recebimento do dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral, o petebista apostou todas as fichas na candidatura a deputada federal da filha Cristiane Brasil. Apesar do apoio do pai nas ruas e na propaganda de TV, ela teve 40.954 votos e ficou sem a cadeira desejada na Câmara.

Jefferson diz ter gasto R$200 mil na campanha da herdeira - cerca de dez vezes menos do que investia nas eleições anteriores. Segundo o ex-deputado, os doadores se afastaram com medo de ser perseguidos pelo governo petista.

- Tive alguma ajuda por dentro e nenhuma por fora - lamenta.

Apesar de ter dedicado os últimos meses à campanha de Cristiane, Jefferson diz que não ficou triste com a derrota da filha, que tem mandato de vereadora do Rio até 2008.

- Fiz tudo para que ela se elegesse, mas fiquei confortável com o resultado. Os ódios ainda estão muito acesos contra mim em Brasília. Cristiane ia ser vítima daqueles que eu denunciei - explica.

Com os direitos políticos suspensos até 2015, Jefferson diz ter desistido de disputar eleições, mas garante que se manterá vivo nos bastidores da política. De volta à presidência do PTB desde a semana passada, pretende passar três dias por semana em Brasília para comandar a fusão do partido com o nanico PSC - solução encontrada para driblar as restrições impostas pela cláusula de barreira.

Cristiane não foi a única herdeira de Jefferson derrotada nas urnas. O genro Marcus Vinicius - que o ex-deputado apresentava na TV como filho - teve 15.914 votos e não conseguiu se eleger deputado estadual.

Apesar da frustração com o desempenho eleitoral dos herdeiros, Jefferson vai respirar política até o segundo turno das eleições, no dia 29. Depois de votar em Heloísa Helena, do PSOL, quer embarcar na campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência. O incentivo para o novo engajamento atende por quatro letras: Lula.

- Lula entrou na eleição como a seleção do Parreira na Copa. Agora o mito da invencibilidade caiu - comemora o ex-deputado, que prevê uma eleição difícil para o petista. - Se esse esgoto do dossiê respingar na barba de Lula, ele vai cheirar mal.

Na disputa estadual, Jefferson também faz as malas para mudar de lado. Apoiou Sérgio Cabral no primeiro turno, mas foi surpreendido ontem pelo flerte de Lula com o peemedebista. Irritado, já pensa em pedir votos para a candidata do PPS, Denise Frossard.

- Não subo no palanque de Lula. E você me conhece: não sou homem de ficar neutro numa eleição - avisa.

A ira com o presidente da República e as novas tarefas no comando do PTB não impedem Jefferson de continuar as aulas de canto. Baixo-barítono, ele diz ter evoluído nos últimos meses, mas ainda não adquiriu confiança necessária para gravar o sonhado disco com canções napolitanas. O humor retorna quando ele fala do arqui-rival, o deputado cassado José Dirceu, do PT.

- Aonde ele for, eu vou atrás - promete Jefferson, antes de soltar uma sonora gargalhada.