Título: Segundo turno surpreende jornais no exterior
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 20A

Veículos apontam escândalos, potencializados com 'caso do dossiê', e ausência no debate na TV como causas

A ida de Lula ao segundo turno foi tratada com destaque, e surpresa, pelos principais jornais do mundo. Nos EUA, o "Wall Street Journal", preferido dos investidores, diz que Lula "assistiu a uma erosão de sua até então formidável liderança nas últimas semanas, após as revelações" sobre o dossiê. Segundo a reportagem, todos os investidores saem ganhando com o segundo turno. "Apesar de esquerdista, Lula provou, em seu primeiro mandato, que é um responsável gerente da política fiscal". O texto segue citando que Alckmin tem uma idéia mais aprimorada sobre as reformas no sistema de pensões e da legislação trabalhista que o Brasil precisa para impulsionar seu crescimento.

Em reportagem de seu correspondente no Brasil, Larry Rohter, o "New York Times" observa que Lula terminou em primeiro na eleição presidencial, mas ficou pouco aquém da maioria de que precisava para evitar um segundo-turno. Segundo a reportagem, o "escândalo de ética" mudou a eleição no último minuto. "Lula em dificuldade", disse a manchete do "Miami Herald International", que destaca o fato de o presidente ter perdido apoio às vésperas da eleição.

Na Europa, a rede britânica BBC diz que "o caso do dossiê" fez com que a reeleição, "que já deveria ter sido decidida, ficasse incerta". A reportagem diz que pode ter sido um erro fatal de Lula não comparecer ao debate na TV Globo, "que influencia milhões de pessoas no país". O "La Reppublica", da Itália, estampou uma foto de Lula na primeira página. A surpresa com o segundo turno recebeu destaque nos portugueses "Público" e "Jornal de Notícias", e na edição eletrônica de jornais como o inglês "Independent" e o espanhol "El País". A maioria dos jornais europeus, por causa do fuso horário desfavorável (cerca de cinco horas à frente do brasileiro), não teve tempo para relatar os resultados da eleição brasileira. O francês "Le Figaro" chegou a, inclusive, noticiar que as pesquisas "apontam vitória de Lula".

La Nácion: 'Tolerância dos brasileiros não é infinita"

Na América Latina, o argentino "Clarín" dedicou cinco páginas e deu manchete para a eleição: "Brasil: ganhou Lula, mas haverá segundo turno". Em artigo assinado pelo seu correspondente no Brasil, Luis Esnal, o jornal argentino "La Nácion" assegurou que a queda do presidente Lula nas pesquisas representa "um sinal para o governo de que a tolerância dos brasileiros em relação a casos de corrupção (...) não é infinita". O chileno "La Tercera" disse que "Lula não conseguiu vencer no primeiro turno, depois de tantos escândalos". Para o "La República", do Peru, a vitória do presidente no primeiro turno teve "um sabor amargo". Na Venezuela, o "El Universal" publicou uma matéria intitulada "O peso dos escândalos", enumerando os principais casos de corrupção que abalaram a imagem do governo.

COLABOROU Janaína Figueiredo, de Buenos Aires