Título: As surpresas que as pesquisas não previram
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O País, p. 20B

Na Bahia e no Rio Grande do Sul, virada de candidatos ao governo não foi detectada até o último momento

O eleitor que seguiu de perto as previsões dos institutos de pesquisa teve surpresas no momento em que as urnas foram abertas no domingo. Pelo menos foi o que aconteceu na Bahia, no Rio Grande do Sul e na disputa pelo Senado no Rio e em São Paulo: os resultados eleitorais não repetiram os levantamentos.

Ao contrário de todos os prognósticos, a deputada gaúcha Yeda Crusius, do PSDB, desbancou o governador Germano Rigotto e passou ao segundo turno da disputa eleitoral contra o petista Olívio Dutra. De acordo com o Ibope, em pesquisa do dia 29 de setembro, Rigotto tinha 34% dos votos válidos e Yeda estava empatada com Olívio com 25%. O resultado oficial mostrou que 32,9% dos gaúchos escolheram a tucana. Com Rigotto, ficaram 27,12% dos eleitores. Olívio conquistou 27,39% dos votos.

No Rio, Jandira já pensava no mandato e perdeu

Na Bahia, segundo os institutos, era remota a possibilidade haver segundo turno e era assegurada a vitória do governador Paulo Souto. Não foi o que aconteceu: o candidato do PT, Jaques Wagner, levou a vitória no domingo, com 52,89% dos votos, contra 43,03 de Souto. No dia 30, o Ibope previa 51% para o pefelista e 41% para o petista.

A disputa pela reeleição ao Senado não foi o passeio que se dizia para Eduardo Suplicy (PT), que foi reeleito com 47,82%. O candidato do PFL, Afif Domingos, chegou perto - ficou a apenas quatro pontos do petista, com 43,7%. E no Rio, Jandira Feghali (PCdoB) deixou a urna certa de que à noite comemoraria a eleição para senadora. Nem ela nem os institutos contavam com a ascensão de Francisco Dornelles, do PP, que ficou a com a vaga, com 45,86% das urnas.

Ibope comemora a alta taxa de acertos

Apesar desses desacertos, os institutos comemoraram o desempenho nas eleições de 2006. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, disse, em entrevista ao "Jornal Nacional", que nos 64 anos do instituto essa foi sua melhor performance.

- Surpresas são normais. As pesquisas tentam informar, mas não são a verdade absoluta - diz Montenegro.

Num comunicado, o Ibope, que fez pesquisas em todos os estados, aponta um índice de acerto de 95% nas pesquisas realizadas entre 25 e 30 de novembro para os governos estaduais e de 98% nos levantamentos para o Senado, no mesmo período. Na boca de urna, a taxa foi de 99% para governador e para senador.

"O objetivo do Ibope é fornecer à sociedade uma informação imparcial e precisa sobre as tendências do eleitorado ao longo da campanha, contando a história de cada pleito, com candidaturas que crescem de forma surpreendente, outras que evoluem dentro do esperado na conjuntura política do estado, outras ainda que murcham", além das viradas que ocorrem a cada ano eleitoral", diz, na nota, Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope.

No caso da Bahia, diz o instituto, o crescimento de Jaques Wagner só se deu nos últimos dois dias de campanha. Segundo o Ibope, esse movimento foi detectado pela pesquisa de boca de urna, que deu ao petista 49%, contra 43% de Souto. Já no Rio Grande do Sul, o Ibope admite a surpresa e não fez pesquisa de boca de urna.

Os resultados das pesquisas para o Senado no Rio e em São Paulo se explicam, segundo o Ibope, pelo alto percentual de eleitores indecisos até o domingo.

Pesquisa não é exata, mostra tendência, diz Paulino

Para o presidente do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, a eleição para o Senado esteve em segundo plano para o eleitor até o momento final, quando a campanha presidencial esquentou. Por isso, avalia, boa parte decidiu na última hora.

- No Rio, o resultado final não bateu com a pesquisa, o que não é usual. Deveria pelo menos mostra a tendência. Alguma coisa ocorreu entre o momento da pesquisa e o voto. Ou a pesquisa errou - explica Paulino.

Em São Paulo, a diferença entre a previsão de votos em Afif e o resultado oficial, afirma Paulino, pode ser explicada pela vinculação do voto para senador ao voto para governador. Assim, a alta votação no tucano José Serra puxou o resultado de Afif. Paulino, como Montenegro, comemora o desempenho do Datafolha, que fez, além da pesquisa presidencial, sondagens em cinco estados:

- O importante é que as pesquisas medem a intenção do voto até o momento em que são feitas. As pesquisas mediram isso até a tarde de sábado (o Datafolha não fez boca de urna). O que mudou na convicção dos eleitores depois disso decidiu a eleição.

Para Paulino, eleições no Brasil já se tornaram rotina e, por isso, só tomam a atenção do eleitor nos últimos dias.

- É até bom que aconteçam erros, para que se entenda que resultado de pesquisa não é infalível nem exato. Mostra uma tendência - dia Paulino.