Título: LUCRO NA VITÓRIA OU NA DERROTA
Autor: Luciana Rodrigues/Ronaldo D"Ercole/Patricia Eloy/L
Fonte: O Globo, 03/10/2006, O GLOBO, p. 33

Mercado aproveita segundo turno para especular e ganhar dinheiro com ativos brasileiros

A surpresa com o segundo turno das eleições presidenciais não impediu que o mercado já preparasse terreno para ganhar dinheiro com as oscilações que devem acompanhar mais algumas semanas de disputa eleitoral. Bancos estrangeiros vêem o período como uma excelente oportunidade para lucrar com os ativos brasileiros e se preparam para ir às compras. Ontem mesmo, fortes especulações em torno de uma possível vitória do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, fizeram disparar as ações de estatais. Na avaliação de alguns investidores, seu governo seria caracterizado por uma nova onda de privatizações. Com isso, os papéis da Cesp subiram 7,68%; os da Eletrobrás, 4,77% e; os do Banco do Brasil, 3,78%. O desempenho ficou bem acima do da Bolsa, que subiu 1,67% ontem.

A perspectiva de que, qualquer que seja o candidato eleito, poucas devem ser as mudanças na política macroeconômica, fez com que o mercado brasileiro tivesse um dia tranqüilo. O dólar fechou em queda de 0,55%, cotado a R$2,159. O risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou 0,43%, para 231 pontos centesimais.

- Os fundamentos do Brasil continuam sólidos, mas devemos ter dias de oscilações à frente. E, qualquer volatilidade é bem-vinda, pois abre espaço para ganhos a curto prazo - diz Paulo Leme, diretor do banco americano Goldman Sachs.

Luís Costa, estrategista de dívida de países emergentes do banco ING em Londres, diz que a instituição tem aplicações no Brasil acima da média do mercado e espera uma forte valorização dos ativos até novembro. Já Nuno Camara, economista para América Latina do banco Dresdner Kleinwort em Nova York, diz que a volatilidade - trazida por novas pesquisas eleitorais e pelos desdobramentos da crise política - vai criar uma excelente oportunidade de compra para os investidores estrangeiros:

- As especulações criarão um ótimo ponto de entrada. Hoje, nossos investimentos em Brasil estão na média do mercado, mas isso pode mudar da noite para o dia, dependendo das oportunidades.

Analistas dizem que o mercado acompanhará de perto a divulgação de cada pesquisa eleitoral, inclusive para governos estaduais - a vitória de alguns candidatos pode esvaziar a base do futuro presidente no Senado. Mas nada que se compare ao nervosismo pré-eleitoral de 2002, quando o risco-país atingiu o recorde histórico de 2.436 pontos centesimais e encerrou 2002 com uma alta de 67,55%.

- Agora, as diferenças entre um candidato e outro, na política econômica, são marginais. A economia brasileira e mundial estão num momento muito mais favorável e o candidato da oposição, do ponto de vista dos mercados, é o preferido - afirma Ricardo Amorim, chefe de Pesquisa para a América Latina do WestLB, em Nova York.

Na avaliação do mercado financeiro, se Lula tivesse ganhado no primeiro turno, teria melhores condições de governabilidade. Agora, os analistas temem um presidente enfraquecido, diante do bom desempenho dos partidos de oposição nas eleições para o Congresso e do desgaste de Lula com o escândalo do dossiê. A preferência do mercado financeiro é por Alckmin também porque, segundo os analistas, o candidato do PSDB seria mais comprometido com a necessidade de reformas (tributária, trabalhista e previdenciária) e com a disciplina fiscal.

- Em geral, o ambiente político, confuso e muito dividido, aponta um cenário pouco favorável aos ajustes de que a economia necessita. Mas o cenário é menos negativo para o candidato tucano - diz Sílvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin.

Empresários podem ficar mais cautelosos

Se o mercado recebeu com alento a chegada de Alckmin ao segundo turno, as indústrias e os consumidores podem ficar mais cautelosos frente a três semanas de indefinição sobre o futuro político do país. Essa é a avaliação de Aloisio Campelo Jr., que coordena as sondagens industrial e de confiança do consumidor na Fundação Getulio Vargas (FGV):

- O clima é de maior incerteza. Podem surgir dúvidas e o temor de que apareçam novos escândalos.

Campelo lembra que, na sondagem realizada pela FGV em agosto, 61% dos consumidores afirmaram que o resultado das próximas eleições iria alterar sua perspectiva para o crescimento da economia.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que um eventual acirramento da campanha presidencial não deverá causar problemas à economia.

- A bolsa está subindo e não há problema. Está tudo tranqüilo e nós do ministério vamos continuar trabalhando como sempre estivemos, independentemente do processo eleitoral - disse Furlan.