Título: Investimento baixo é o maior vilão
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 03/10/2006, Economia, p. 35

Só queda de juros e de inflação não bastam para alavancar crescimento

BRASÍLIA. Mesmo diante de um cenário de queda de juros e inflação - condições consideradas essenciais ao crescimento da economia - o mercado financeiro e o governo vêm reduzindo suas projeções para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, com reflexos sobre 2007. Analistas ouvidos pelo GLOBO apontam o baixo nível de investimentos como o maior vilão desse quadro, apesar de o resultado pífio da atividade no segundo trimestre do ano - afetado pela greve da Receita Federal e Copa do Mundo - também ter contribuído para a revisão das estimativas.

O Banco Central, por exemplo, reduziu sua expectativa de aumento do PIB este ano de 4% para 3,5%. Já as principais instituições financeiras esperam que esse percentual seja de 3,09%, segundo a pesquisa semanal Focus, realizada pelo BC. Uma semana antes, no entanto, esse número era de 3,11%. Até mesmo o Ministério da Fazenda, que ainda tem como expectativa oficial 4% do PIB, já admite que esse número pode ser reconsiderado.

A taxa de investimento gira em torno de 20% do PIB no Brasil, enquanto a de outros emergentes é bem maior. Na China, por exemplo, ela foi de 35,3%, em média, entre 1995 e 2004.

Segundo Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), inflação baixa e juros em queda - que mesmo assim ainda são elevados - não são suficientes para estimular o crescimento se não há investimentos no país.

- O PIB potencial do Brasil é baixo porque o investimento é baixo - disse ele.

Ele ressalta que os investidores enfrentam incertezas na hora de aplicar seus recursos no mercado brasileiro e ainda têm custos elevados nas áreas de transporte e logística, o que agrava o quadro. Essa também é a avaliação do chefe de pesquisa para América Latina do West LB, Ricardo Amorim:

- O Brasil aplica apenas 1% do PIB em infra-estrutura.

Levy e Amorim destacam que os investimentos também são prejudicados pelo gastos do governo, que sobem a cada ano. As despesas correntes, por exemplo, passaram de 9,9% do PIB em 1991 para 17,3% do PIB em 2005, segundo dados do Tesouro Nacional. No caso da Previdência Social, as despesas saltaram de 2,9% do PIB entre 1986-1990 para 6,9% do PIB entre 2001 e 2005. O preço disso é uma carga tributária elevada, que está hoje em 37,37% do PIB, e a redução de investimentos públicos.

- O gasto per capita com cada aposentado do funcionalismo público é 22 vezes maior que o gasto com um aposentado do setor privado - lembra Amorim.

Ele destaca que o gasto per capita com cada aposentado é 14 vezes maior que o gasto per capita com educação pública. Isso, segundo o sócio e diretor da Tendências Roberto Padovani, faz com que o Brasil não tenha mão-de-obra qualificada, o que afasta investimentos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já começou a erguer a bandeira da reforma tributária como essencial para o crescimento. Para Amorim, a iniciativa é positiva, mas não terá efeito sem redução de gastos:

- Isso vai melhorar a estrutura tributária no Brasil, o que é positivo, mas sem redução de despesas, o efeito será pequeno.

Segundo Padovani, o governo também deve dar prioridade à aprovação da Lei do Saneamento e da legislação sobre o papel das agências reguladoras.

- É preciso ter regras definidas e segurança jurídica para quem quer investir no Brasil. Sem um bom ambiente de negócios, o país não vai crescer - disse ele.

"O PIB potencial do Brasil é baixo porque o investimento é baixo"

PAULO LEVY

Economista do Ipea

"É preciso ter regras definidas e segurança jurídica para quem quer investir"

ROBERTO PADOVANI

Economista da Tendências