Título: Tropas em formação
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O GLOBO, p. 2
A euforia tucana e a ressaca petista já deram lugar ao recrutamento de forças e aos preparativos para a guerra. ¿Diga-me com quem andas e dir-te-eis quem és. É preciso conhecer os times que irão governar¿, proclamou Geraldo Alckmin algumas vezes. Ontem, ele deu os braços aos Garotinho. Lula ganhou o apoio de Sérgio Cabral, reuniu a tropa vitoriosa no primeiro turno e deve fazer mudanças importantes no estado-maior.
Em segundo turno não se recusa apoio, diz um velho postulado, que está sendo seguido. Respondendo sobre a reeleição de deputados encalacrados, e sem que Collor fosse citado, Lula avaliou que ele pode fazer um ¿trabalho extraordinário¿ no Senado.
Seguem ambos com a ladainha do bom debate, da importância do confronto de idéias, mas vamos assistir mesmo é a uma formidável lavação de roupa suja, nova e velha, uma troca de chumbo em nome da ética. Sérgio Guerra, coordenador da campanha tucana, avisou que Lula não terá um minuto de sossego com o caso do dossiê. Lula, anteontem, disse desejar ¿um debate profundo sobre a ética¿. Seus escudeiros Ciro Gomes e Tarso Genro, em seguida, entraram em campo. Ciro, revigorado pelo banho de votos recebidos no Ceará, deu a primeira rajada com uma entrevista coletiva na noite de anteontem. Fez um longo inventário dos casos de corrupção da era Fernando Henrique, começando pelo Sivam. O embaixador Júlio César também habitava uma sala muito próxima da de FH, mas essa proximidade nunca foi explorada para ligar o escândalo ao presidente, disse Ciro. Recordou outros casos e foi terminar nos vestidos milionários da mulher de Alckmin. O outro lado não precisa de digressões, tem à disposição o caso do dossiê de Vedoin, que deve produzir estrondos.
Lula continua exigindo uma solução rápida, a partir de duas hipóteses. Ou se demonstra que uma arapuca foi montada para os petistas ou se manda para o pelourinho os envolvidos, os mandantes e providenciadores do dinheiro. Ou as duas coisas, pois, ainda que tenha havido armação, quem caiu no conto do vigário explicitou má índole e disposição para praticar crime político.
Por suas últimas declarações, Lula parece convencido de que houve alguma armação. Insinuou isso sexta-feira, quando soube que o delegado Bruno é que passara as fotos do dinheiro para a imprensa. Anteontem voltou a dizer que quer saber ¿o mistério¿ desse dossiê, o arquiteto da operação que resultou em tiro no pé. Mais não fala, porque, não dispondo de elementos ou provas, pareceria estar tentando novamente desculpar os petistas e tapar o sol com a peneira. Certo é que, pela pressa dele, estão para surgir novidades, tanto no caso dossiê como na questão interna do PT.
Alckmin ganhou o apoio dos Garotinho e está conversando com a ala não-lulista do PMDB. Traçou estratégias para avançar em redutos lulistas como o Rio, o Nordeste e o Amazonas.
Lula tenta desarmar a bomba do dossiê enquanto arregimenta forças, incorporando à campanha aliados vitoriosos como Jaques Wagner, Ciro Gomes, Déda, Sarney. Rufam os tambores. O debate programático será só pano de fundo.