Título: O FATOR GAROTINHO
Autor: Flávio Freire e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O País, p. 3

Ex-governador apóia Alckmin, racha PMDB do Rio e leva Cesar a retirar apoio a tucano

Fora da cena política nacional no primeiro turno, o ex-governador Anthony Garotinho mergulhou ontem de cabeça na campanha do tucano Geraldo Alckmin no segundo turno. O primeiro efeito colateral da adesão: Garotinho rachou o PMDB do Rio, agora dividido entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano. Sérgio Cabral, candidato peemedebista a governador, anunciou ontem apoio a Lula. Segundo efeito: o prefeito Cesar Maia (PFL), que acompanhou Alckmin durante todo o primeiro turno, pôs um pé para fora da campanha, chamou a aliança com Garotinho de desastre, doença contagiosa e tiro na cabeça.

Garotinho ofereceu a Alckmin uma espécie de palanque fantasma no Rio. Na organização do apoio de seu grupo ao tucano, ele descartou a possibilidade de dividir qualquer atividade de campanha com Cabral, que estará ao lado de Lula. E também rejeitou a hipótese de parceria com a candidata do PPS ao governo do estado, Denise Frossard, afilhada política de Cesar Maia ¿ o maior adversário do casal Garotinho no estado ¿ e até ontem também aliada de Alckmin.

¿ No palanque do Lula eu não subo (em 2002, porém, ele apoiou o petista no segundo turno). Vamos fazer campanha para Cabral e Alckmin ¿ disse o ex-governador, que, ao ser perguntado se dividiria o palanque com Frossard, foi enfático:

¿ Obviamente não. Vamos fazer palanques pessoais.

Ao lado da governadora Rosinha e da filha mais velha, Clarissa, Garotinho desdenhou do impacto das denúncias contra ele na campanha tucana. Anteontem, em entrevista, Alckmin usara um provérbio para defender seu time de aliados: ¿Diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és¿.

¿ Nenhuma das denúncias contra mim foi comprovada. Fizeram denúncias também contra o Alckmin e contra Lula. E se denúncia atrapalhasse, Lula não teria tido nem 5% dos votos ¿ disse Garotinho, cuja pré-campanha recebeu recursos de empresas que tinham sócios em comum com ONGs contratadas pelo estado.

Ex-governador faz ironias sobre Cesar

Na porta do prédio onde funciona o comitê tucano, Alckmin, ao lado de Garotinho, foi econômico ao justificar o apoio recebido do peemedebista:

¿ Quero agradecer o apoio. Ela é governadora do estado. Ele foi prefeito e governador. Apoio se recebe, se agradece. Não nos foi solicitado nada que não fosse compromisso com o Brasil ¿ disse.

Garotinho, que substituiu um Geraldo por outro ¿ apoiou a vitoriosa candidatura a deputado federal de Geraldo Pudim, seu aliado em Campos, e agora aderiu a Alckmin ¿ foi irônico ao reagir às críticas de Cesar:

¿ Nem tudo o que ele (Cesar Maia) fala deve ser levado a sério. Entendo o fato de ele estar irritado, porque o filho dele teve menos votos do que o candidato que eu apoiei, um simples desconhecido, o Geraldo Pudim.

Alckmin e Garotinho afirmaram que o apoio não está condicionado a qualquer cargo. Rosinha, que declarou ter votado no tucano no primeiro turno, elogiou o governo Fernando Henrique e disse que Lula persegue o estado:

¿ E é preciso acabar com essa farsa. Porque nada aconteceu com as pessoas que confessaram ter praticado os crimes. Parece que a lei só existe para os outros; para os amigos do Lula, não ¿ disse, apostando que Alckmin vai conquistar o Rio:

¿ Nós (ela e Garotinho) cruzamos os braços (no primeiro turno). O carioca sabe votar, mas estava liberado. A votação do Alckmin agora vai crescer bastante no estado. A população tem sido enganada por parte da mídia ¿ disse ela. Clarissa usava uma blusa preta na qual estava escrito ¿Fora Lula¿ na frente e, atrás, ¿Corrupção, mensalão, incompetência e omissão. Ele não sabia. Eu sei.¿

* Enviada especial