Título: CABRAL: `MEU APOIO SERÁ AO PRESIDENTE LULA¿
Autor: Bernardo de la Peña e Ludmilla de Lima
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O País, p. 5
Candidato do PMDB agora diz representar centro-esquerda e que deve conseguir aliança também com Crivella
O candidato do PMDB ao governo do estado, Sérgio Cabral, confirmou ontem a aliança no segundo turno com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concorre à reeleição. Os dois têm encontro marcado amanhã, às 15h, num ato público na sede regional do PT, no Centro do Rio. Foram convidados parlamentares e prefeitos petistas como Godofredo Pinto, de Niterói, e Lindberg Farias, de Nova Iguaçu.
Depois de se declarar ¿radicalmente neutro¿ no primeiro turno da disputa presidencial, Cabral diz agora representar a centro-esquerda numa disputa ¿contra o conservadorismo¿, como pretende caracterizar a candidatura da adversária Denise Frossard, do PPS.
¿ Meu apoio será ao presidente Lula. Vamos marchar juntos numa campanha bonita e positiva contra o conservadorismo no Rio ¿ afirmou.
O senador negou que a aliança com Lula provoque um racha estadual no PMDB, cujo presidente regional, Anthony Garotinho, formalizou ontem apoio ao candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin:
¿ Isso é uma questão do plano nacional. Ele (Garotinho) me apóia para governador e apóia o candidato do PSDB à Presidência.
Responsável pela organização da campanha do peemedebista no interior do estado, o candidato a vice na chapa, Luiz Fernando Pezão, disse acreditar que a maior parte dos prefeitos e deputados do partido vai aderir à candidatura de Lula e ignorar a aliança de Rosinha e Garotinho com Alckmin.
¿ A maioria vai fechar com Lula. O candidato é o Sérgio, não o Garotinho ¿ disse Pezão, que deixou a Secretaria de Governo de Rosinha no fim de março para embarcar na campanha de Cabral.
Para deputado, decisão de Garotinho pode ser útil
Para o líder do governo Rosinha na Assembléia Legislativa, deputado Noel de Carvalho (PMDB), a divisão na corrida presidencial pode ser útil a Cabral caso as investigações sobre o dossiê contra tucanos comprometam a candidatura de Lula à reeleição.
¿ A decisão do Garotinho dará segurança ao Cabral. Se houver uma onda pró-Alckmin, isso pode funcionar como válvula de escape ¿ analisa.
Dono de 18,54% dos votos válidos no primeiro turno, o senador Marcelo Crivella, do PRB, foi anunciado ontem por Cabral como novo reforço de sua candidatura. O bispo licenciado da Igreja Universal prometera apoiar Frossard até a semana passada, mas mudou o discurso e disse, no domingo, que obedeceria à decisão de Lula.
¿ Crivella está muito entusiasmado. É um apoio que me honra muito ¿ disse Cabral.
O bispo manteve o silêncio desde que reconheceu a derrota, no domingo, e viajou ontem para Brasília, onde se encontrou à noite com Lula e o vice-presidente José Alencar, também filiado ao PRB. À noite, divulgou nota em que alega não ter decidido o que fazer no segundo turno da eleição para o Palácio Guanabara. Cabral demonstrou irritação com a acusação de Frossard, em entrevista à rádio CBN, de que ele teria oferecido a Secretaria de Educação em troca do apoio de Crivella.
¿ Ela ficou desesperada porque perdeu o apoio dele e começou a manifestar isso com mentiras. O senador jamais falou em cargos ¿ afirmou.
A união com Lula também deve levar o candidato derrotado do PT ao Palácio Guanabara, Vladimir Palmeira, ao palanque de Cabral. O petista ¿ um dos críticos mais duros do peemedebista no primeiro turno ¿ agora diz que apoiará a decisão do partido. Em entrevista ao GLOBO em setembro, Vladimir acusou Cabral de ser omisso no Senado.
¿ Vai ser mais um medíocre a governar o Rio ¿ atacou.
Ontem, ao ser informado de que o presidente regional do PT, Alberto Cantalice, selou o apoio a Cabral, Vladimir admitiu o constrangimento.
¿ O PT está numa sinuca de bico. De um lado, somos oposição a Cabral e Garotinho. De outro, Cabral decidiu apoiar a reeleição de Lula ¿ disse.
Cabral recebe deputados investigados no comitê
Seguindo a nova estratégia de aproximação com os partidos de esquerda, Cabral passou o dia em negociação com líderes do PCdoB e do PSB. No fim da tarde, ele recebeu aliados no comitê de campanha ¿ entre eles, o apresentador Wagner Montes, do PDT, eleito deputado estadual com a terceira maior votação do Rio. Hoje, o senador tenta firmar o apoio do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que teve 1,52% dos votos válidos para governador.
Cabral também se reuniu com os deputados reeleitos Marcos Abrahão (PSL), que foi cassado em 2003 e recuperou o mandato na Justiça, e Jorge Picciani (PMDB), investigado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem financeira.