Título: CAPITAIS TAMBÉM SE DIVIDIRAM ENTRE PT E PSDB
Autor: Henrique Gomes Batista e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O País, p. 12

Alckmin ganhou do presidente em Aracaju, Rio Branco, Campo Grande, Brasília e Porto Alegre, redutos petistas

BRASÍLIA. A divisão do país entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) foi ainda mais equilibrada nas capitais dos estados. Lula, que saiu vitorioso de 16 estados, foi o mais votado em 15 capitais. Já o tucano, que venceu em dez estados e no Distrito Federal, foi o mais votado em 12 capitais. Mais do que isso, a análise dos números também demonstra que Alckmin venceu em importantes cidades administradas pelo PT, onde Lula tinha, historicamente, boa votação.

Somando as 27 capitais, Lula obteve 10,55 milhões de votos, 1,194 milhão a mais do que o tucano, que conseguiu 9,361 milhões de votos nas capitais. Na maior parte, o resultado da eleição na capital refletiu o mesmo vencedor registrado em todo o estado. Apenas três exceções ocorreram: em Alagoas e Sergipe, embora Lula tenha ganhado as eleições nos estados, Alckmin venceu nas capitais, Maceió e Aracaju. Situação inversa ocorreu em Rondônia: Alckmin ganhou no estado e Lula na capital, Porto Velho.

O candidato petista perdeu em importantes redutos do seu partido, como Aracaju, Rio Branco (AC), Brasília, Campo Grande (MS) e Porto Alegre (RS). Mas uma das maiores surpresas aconteceu mesmo em Aracaju, onde os eleitores consagraram o petista Marcelo Déda como governador, no primeiro turno, mas deram a Alckmin 44,8% dos votos, contra 40,2% para Lula, destoando do restante do Nordeste.

A cidade atualmente é administrada pelo vice de Déda, Edvaldo Nogueira (PCdoB).

¿ Desde a redemocratização (em 1985) a direita não põe os pés na prefeitura e certamente levará muito tempo para fazê-lo ¿ disse Nogueira no seu discurso de posse, em 31 de março.

Déda considera que a derrota de Lula na cidade que administrou por cinco anos foi um caso isolado:

¿ Meu adversário, o governador derrotado João Alves (PFL), fez uma campanha apocalíptica, dizendo que se Lula fosse reeleito ele faria a transposição do Rio São Francisco e que 60% da população de Aracaju teria de se mudar.

Tião: ¿É difícil explicar¿

Déda afirmou que ele e os outros governadores do partido eleito na região conseguirão ampliar a vantagem de Lula no segundo turno.

Fato semelhante ocorre no Acre, estado administrado pelo PT desde 1999 e onde o partido conta com dois dos três senadores, elegeu no domingo três dos oito deputados federais do estado e o novo governador. Mesmo com o cenário favorável, Rio Branco deu 49,7% de seus votos a Alckmin, contra 42,9% a Lula. A diferença em favor do tucano ficou ainda maior em todo o estado: 51,8% a 42,6%.

Irmão do ex-governador Jorge Viana, o senador reeleito Tião Viana ainda procura explicações para o resultado. Mas afirma que a mudança da vontade dos eleitores não está ligada à política local:

¿ É algo difícil de explicar. Quinze dias antes das eleições Lula estava com sete pontos à frente de Alckmin, mas possivelmente a repercussão na imprensa nacional do episódio do dossiê pode ter afetado o desempenho do presidente.

Os petistas começam a se movimentar para recuperar o terreno no segundo turno. Tião Viana prometeu percorrer o estado com o irmão e o novo governador eleito, Binho Marques, para virar o jogo a favor de Lula.

¿ Tenho certeza que chegaremos no final do segundo turno com 70% dos votos.