Título: AS PREVISÕES FURADAS DE CESAR, DIRCEU E IUPERJ
Autor: José Bastos Moreno
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O País, p. 16

Prefeito-blogueiro do Rio fez apostas que não se realizaram na eleição

Fazer previsões em campanha eleitoral é um risco do qual poucos escapam ilesos. Nesta eleição, como em outras, não foi diferente ¿ e os que foram mais categóricos acabaram cometendo os maiores erros. O principal ¿comentarista¿ do ano, o prefeito do Rio, Cesar Maia, deu muitos tiros, mas acertou poucos alvos. Da mesma forma, sai arranhada no pleito a capacidade de previsão do Iuperj, o mais renomado instituto de análise política do Rio, que ousou prever que o PT faria o maior número de deputados federais, quando todos os seus concorrentes cravavam o PMDB como maior bancada da Câmara.

Também o ex-ministro e atual blogueiro, José Dirceu, não foi feliz em suas previsões, o que mostra que, como conselheiro político de Lula, poderia ter induzido o presidente a erros de avaliação se lá ainda estivesse. A dois dias da votação, Dirceu cravou:

¿As pesquisas divulgadas anteontem pelo Datafolha e pelo Ibope mostram que Lula está mais próximo da soma de todos os seus adversários, o que poderia significar que está mais próximo de enfrentar um segundo turno. Mas isso é ilusório. Nada indica que distância entre ele e os demais candidatos poderá ser atravessada nos dois dias que restam até a eleição porque, até agora, o presidente manteve sua preferência entre os eleitores. São os eleitores dos adversários que trocam de candidato a cada pesquisa.¿

No dia 11 de setembro, duas semanas antes da eleição, o Núcleo de Estudos sobre o Congresso do Iuperj surpreendeu ao apontar que o PT elegeria a maior bancada da Câmara. O texto ¿Análise e previsão de distribuição das forças partidárias para a Câmara¿ dizia que o PT elegeria no mínimo 87 deputados (ficou com menos, 83); que o PSDB teria a segunda maior bancada, com 78 cadeiras (ficou com 65), seguido por PFL, que teria 61 (teve 65) e, por fim, o PMDB, que para o Iuperj teria apenas 56 cadeiras (mas elegeu na verdade 89 e foi mais uma vez o partido que fez a maior bancada). A previsão foi republicada na revista ¿Carta Capital¿.

Mas, entre tantos palpites errados, ninguém conseguiu superar o prefeito Cesar Maia. Poucas previsões suas se sustentaram. No dia 19 de julho, ele cravou: ¿Esse ex-blog aceita apostas ! Na pior das hipóteses Heloísa Helena terá 15% dos votos para presidente! Se tudo der errado! Se seu olhar na TV suavizar, passar de tia a mãe, puxa, pode ir muito mais longe!¿. Como se sabe, a candidata não chegou nem à metade disso, estacionou em 6,8%, embora tenha seguido todos os conselhos do prefeito.

Mas ele errou também na previsão sobre os votos de Cristovam Buarque, embora com margem menor. ¿Esse ex-blog aposta que Cristovam não terá menos que 3%.¿ Teve 2,6%. Outra tese difundida por Cesar Maia durante a eleição foi a de que o teto do voto de um candidato a presidente na reeleição é a soma da avaliação de seu governo nos quesitos bom e ótimo. No dia 13/9, Cesar previu: ¿Ótimo+Bom: 46%. Estes 46% são o teto de Lula neste momento.¿ Lula terminou com votação superior à avaliação de seu governo.

Cesar difundiu também a tese, que não se comprovou, de que como a soma de abstenção, votos em branco e votos nulos seria maior do que as pesquisas apontavam, Alckmin chegaria ao segundo turno de qualquer maneira. Ele acertou nos números, mas a conclusão não se verificou. Ele disse: ¿O não-voto alcançou 10% (numa pesquisa em 13/9). No dia da eleição o não-voto-abstenção líquida+branco+nulo- serão (sic) 25%.¿ Realmente, o que Cesar chamou de não voto deu exatamente isso (Os votos em branco foram 2,73%; os nulos, 5,68%; e abstenção, 16,7% . Mas esses números não levariam Alckmin ao segundo turno. Ficou claro que só o efeito da ausência do presidente no debate da TV Globo e o escândalo do dossiê tiraram efetivamente pontos de Lula. Sem isso, mesmo com a ponderação de ¿não votos¿ prevista pelo prefeito, Lula teria vencido.