Título: DOSSIÊ: PF CONCENTRA INVESTIGAÇÃO NOS DÓLARES
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 04/10/2006, O País, p. 17
Rastreamento mostra mais de 532 transferências, mas duas, de valores próximos a US$400 mil, se destacam
CUIABÁ. A Polícia Federal concentra as investigações sobre a origem do dinheiro que seria usado pelos petistas para tentar comprar o dossiê contra os tucanos no rastreamento dos dólares sacados por duas corretoras no Banco Sofisa, nos dias 3 e 12 de setembro. O primeiro saque no valor de US$400 mil, e o segundo de uma quantia similar. Além destas transações, outras 532 transferências, acima de US$10 mil, feitas pelo banco para 20 corretoras, estão sendo analisadas pelos policiais. A PF não descarta a possibilidade de analisar transações menores do que essas.
A Polícia Federal também já pediu ao Banco Central o levantamento da segunda leva de destinatários do dinheiro. Embora já tenha recebido a primeira listagem, que contém os nomes das corretoras e casas de câmbio que receberam os dólares, a PF agora quer obter os nomes das pessoas que retiraram essas notas das instituições que as receberam do Sofisa.
Dinheiro teria sido entregue por ex-coordenador petista
O banco foi o destinatário de um lote de US$15 milhões no qual estavam parte das cédulas referentes aos US$248 mil apreendidos pela PF com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no hotel Ibis, em São Paulo. Os dois esperavam pelos documentos enviados pelo empresário Luiz Antonio Vedoin com papéis que supostamente comprometeriam tucanos com o esquema das sanguessugas.
A PF suspeita que os dólares também tenham sido entregues no hotel pelo ex-coordenador da campanha ao governo de São Paulo do senador Aloisio Mercadante, Hamilton Lacerda. Os policiais já identificaram nas imagens que estão nas fitas do circuito interno de segurança do hotel uma segunda visita de Lacerda ao local na madrugada do dia 15. Ele aparece com uma maleta e duas pequenas sacolas (uma preta e uma azul), nas quais carregaria os dólares.
Enquanto tem cada vez mais provas do envolvimento de Lacerda no caso, a PF não tem elementos, além do depoimento de Gedimar, contra o ex-assessor do presidente Lula, Freud Godoy. O auxiliar do presidente foi citado pelo petista preso com o dinheiro como um dos envolvidos na operação de compra do dossiê. A PF identificou ligações telefônicas entre Freud, Gedimar e o ex-chefe do serviço de inteligência do PT, Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro do presidente, durante o mês de agosto. Em seu depoimento, Freud admite que falou com os dois para tratar de assuntos referentes a segurança da campanha do presidente Lula pela reeleição neste mês, mas não em setembro.
Os policiais também não encontraram ligações do ex-auxiliar do presidente para os envolvidos no episódio em setembro. Freud negou conhecer Lacerda e o diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, e a PF não encontrou ligações entre ele e os dois outros petistas. A polícia investiga ainda se a empresa de Freud foi usada para transportar dinheiro retirado em alguma das instituições que estão sob investigação.
Demora nas investigações prejudica imagem do PT
No inquérito que apura a origem do dinheiro usado na operação, os policiais investigam a possibilidade de terem sido cometidos pelo grupo os crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, contra a administração pública e eleitorais, no caso dos recursos terem vindo de caixa dois. O indiciamento de algum dos acusados por algum destes crimes, entretanto, vai depender do andamento das investigações.
Passado o primeiro turno das eleições, os investigadores ligados ao caso acreditam que aumentou a possibilidade de os responsáveis pelo transporte do dinheiro admitirem logo de onde vieram os recursos porque a demora nas investigações prejudica mais a imagem do PT, o que pode repercutir na campanha do presidente Lula. Além disso, avaliam, a PF em breve vai conseguir identificar de qualquer forma de onde vieram os R$1,7 milhões apreendidos com os petistas.