Título: UM RISCO CALCULADO?
Autor: Plinio Teodoro
Fonte: O Globo, 05/10/2006, O País, p. 5

Especialistas divergem sobre efeitos do apoio de Garotinho

Anthony Garotinho transfere mais votos ou rejeição? O apoio do ex-governador do Rio a Geraldo Alckmin no segundo turno da eleição presidencial abriu uma crise na campanha do tucano e dividiu também a opinião dos especialistas. Há quem defenda que Garotinho ainda tem cacife eleitoral dentro e fora do estado e que, por isso, o resultado para Alckmin pode ser positivo. Outros acham que a aliança com o peemedebista foi um tiro no pé. O cientista político Antônio Alkmim, da PUC-RJ, usa uma metáfora futebolística para definir a entrada de Garotinho em cena:

¿ Foi um mau negócio para o Alckmin, cuja equipe ganhou o primeiro tempo de 1 x 0. É como se ele entrasse no segundo tempo e levasse um gol com 30 segundos de jogo. Passando por cima de um prefeito (Cesar Maia) que comanda o município há, pelo menos, 12 anos, o tucano mostra desconhecimento sobre a política do Rio de Janeiro. Isso é coisa de paulista. A direção nacional do PT, composta por paulistas, esmagou o PT carioca. Alckmin não conhece o Rio. Se conhecesse, não faria isso.

Para o cientista político Antônio Lavareda, do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas e consultor do PSDB e do PFL, o risco para a campanha tucana deve ter sido calculado.

¿ Espero que os prós e os contras desse apoio tenham sido analisados. Ou seja, tem a questão da imagem do Garotinho, com problemas que levaram à inviabilidade de sua candidatura. Mas tem o peso específico no Rio de Janeiro e o do segmento evangélico do eleitorado nacional. Nesses casos, é feito um cálculo de custo e benefício, com base em pesquisas. É preciso se debruçar sobre elas, saber se o eleitorado do Garotinho já estava com Alckmin ou não. O saldo desse cálculo tem que ser positivo ¿ afirma Lavareda.

Para o coordenador de pós-graduação em Ciências Políticas da UFF, professor Eurico Figueiredo, Alckmin fez bem ao aceitar o apoio de Garotinho, já que o ex-governador já provou ser um grande ¿transferidor de votos¿:

¿ Acho que ele fez certo, pois ele precisa ter um amplo campo de ação para desenvolver sua campanha. Garotinho é uma das grandes lideranças políticas do Rio. Ele já se mostrou ser um grande encaminhador de votos. Em 2002, elegeu a mulher, que não tinha sido nem síndica de prédio. Além disso, o Rio foi o único estado em que Lula teve menos votos que Garotinho. Além disso, quando Garotinho o apoiou no segundo turno, Lula cresceu muito no estado. Desde 2003, ele tem sido um dos maiores críticos de Lula e, com essa postura, alcançou cerca de 18% das intenções de voto nas pesquisas realizadas na época em que pretendia se candidatar pelo PMDB.

Para Figueiredo, o prefeito Cesar Maia ¿ que anteontem chamou o apoio de desastre, doença contagiosa e tiro na cabeça ¿ vai acabar cedendo e apoiará a campanha do tucano. Além da aliança de seu partido, o PFL, com o PSDB, Cesar Maia será pressionado pelos eleitores de Denise Frossard a tomar uma posição:

¿ Num segundo turno tão disputado, os eleitores de Denise Frossard esperam um posicionamento. Como, acredito, a maioria deles deve votar no Alckmin, vão preferir que ela o apóie.

Por isso, o professor diz acreditar que o tucano terá dois palanques no estado:

¿ Um na capital, onde a força política de Cesar Maia é mais forte, e outro no interior, onde prevalece Garotinho. Quem votou em Alckmin no primeiro turno não mudará o voto por causa de sua aliança com Garotinho.

Maria Celina Soares D¿Araujo, da Fundação Getúlio Vargas, chamou de ¿trapalhada¿ a costura da aliança com Garotinho. Para ela, o ex-governador é o único que sai ganhando com a aliança, já que estava fora do cenário nacional e procura se aliar a alguma máquina pública para manter seu poder:

¿ O Garotinho está montando uma estratégia: se Cabral e Lula ganharem, ele está bem com Cabral. Se Frossard e Alckmin ganharem, ele se encosta no tucano. Ele quer acesso à máquina pública, de onde derivam os recursos.

Maria Celina acha que o apoio pode ser um tiro no pé para a campanha de Alckmin e lembra que Garotinho jogou todos os trunfos na candidatura de Geraldo Pudim:

¿ Pudim foi eleito com menos de 300 mil votos. É muita coisa, mas não é um milhão de votos, que deveria ser o tamanho mínimo do prestígio dele. A minha impressão é que Garotinho afasta os eleitores de Alckmin, de Heloísa Helena e de Cristovam. Garotinho representa o atraso, a corrupção e a conivência com que o estado tem visto de pior nos últimos anos.