Título: ALCKMIN: `SÓ TENHO COMPROMISSO COM O POVO¿
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 05/10/2006, O País, p. 15

Constrangido, tucano chama Serra e Aécio para tentar driblar a repercussão negativa do apoio de Garotinho

SÃO PAULO. Um dia depois de ter recebido o apoio do ex-governador e presidente do PMDB no Rio, Anthony Garotinho, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem que não tem compromisso com ninguém, ¿apenas com o povo¿. Reclamou ainda que a cobertura da corrida presidencial no Brasil está dando mais destaque a ¿fofocas¿.

Abalado pela reação negativa entre aliados, Alckmin minimizou a debandada de sua campanha da candidata do PPS ao governo do Rio, Denise Frossard, e do prefeito Cesar Maia, que o retaliaram publicamente. No PSDB, a cúpula avalia que ao trazer políticos com a imagem marcada por denúncias de corrupção, Alckmin poderia fragilizar a própria campanha tucana.

Numa tentativa de recuperar força contra possíveis ataques de adversários, Alckmin recorreu ao comando de campanha para procurar diluir o estrago provocado pela visita de Garotinho e da governadora Rosinha Garotinho. Alckmin evitou polemizar, mas não descartou abrir espaço para os apoiadores num eventual governo.

¿ Governo se discute a partir do dia primeiro (de janeiro). Não tenho compromisso com ninguém, mas meu compromisso é com o povo brasileiro ¿ disse o tucano, que procurou disfarçar o desgaste com o fato de ter ruído seu principal palanque no Rio. ¿ A Denise é a minha candidata. Se eu votasse no Rio, votaria nela. No primeiro turno passamos por dificuldades e incompreensões maiores e superamos todas elas.

Cassol também leva apoio

Visivelmente constrangido, Alckmin procurou demonstrar força em entrevista no início da noite. Ao lado do governador reeleito em Minas, Aécio Neves, e de José Serra, eleito governador em São Paulo, o candidato evitou falar sobre o apoio recebido horas antes do governador reeleito em Rondônia, Ivo Cassol (PPS), que teve o nome envolvido em irregularidades. Depois de agradecer aos apoiadores sem citar Cassol, o tucano foi questionado se tratava-se de um apoio envergonhado:

¿ Não, é que ele não é do PSDB, é do PPS ¿ disse Alckmin, que justificou o encontro com Cassol longe dos jornalistas: ¿ Eu estava no Morumbi (bairro da Zona Oeste de São Paulo) e ele ali perto, no Einstein (no hospital Albert Einstein), por isso a reunião não foi no escritório ¿ disse ele, ainda cobrado dentro do partido por ter posado para fotos ao lado de Garotinho e de sua mulher, Rosinha, um dia antes.

Aécio e Serra não comentam

A presença de Serra e Aécio teria sido a forma encontrada pela cúpula tucana para diluir o noticiário negativo. Diante da cobrança de que aliados envolvidos em denúncias de irregularidades poderiam implodir o discurso da ética que tem caracterizado sua campanha, Alckmin deixou de lado o usual tom ameno:

¿ Infelizmente, sabe o que está acontecendo? A cobertura presidencial no Brasil está virando fofoca. Isso é fato. Fofoca de bastidores, com um falando mal do outro. Não tem coisa substantiva ¿ disse ele.

Indagado sobre as denúncias que pesam contra Garotinho e Cassol, o tucano, incomodado, disse que não tem poder ou autonomia para impedir que qualquer pessoa declare voto.

¿ Se amanhã for comprovada alguma coisa, vai ser punido. Mas não vou proibir ninguém de me apoiar ¿ disse ele, para quem o apoio de Cassol e Garotinho não significa colocá-los em seu palanque.

Segundo o candidato, o perfil da campanha nessa segunda rodada é diferente.

¿ Não vai ter comício, não vai ter palanque, não tem nada disso. O que se tem é uma campanha institucional.

A prova de que a cúpula partidária não digeriu bem o apoio de Garotinho ficou evidenciada quando Aécio disfarçou e não respondeu sobre como classificaria o apoio. Fingindo não ter ouvido a pergunta de uma repórter, passou a palavra para Alckmin. Ao fim da entrevista coletiva, brincou com a jornalista.

¿ Não deu tempo para responder ¿ disse Aécio.

O governador eleito José Serra disse que não comentaria:

¿ Eu não vou entrar neste assunto, pois aliança é tratada pelo partido e não vou opinar, pois poderia ser mal interpretado ou interpretado de maneira distorcida, até porque envolve outras regiões, outros estados ¿ disse Serra.

Diante da discussão sobre apoios que prejudicam a campanha, os dirigentes do PSDB resolveram partir para a estratégia que deve balizar a atuação no segundo turno: os ataques contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a corrupção no governo.

¿ Nós fazemos campanha limpa, o que não é comum entre nossos adversários ¿ disse Alckmin.