Título: RELATOR PEDE CASSAÇÃO DE SUASSUNA
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 05/10/2006, O País, p. 18

Ele não é réu sem culpa¿, diz Jefferson Péres no Conselho de Ética

BRASÍLIA. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) apresentou ontem seu relatório ao Conselho de Ética e pediu a cassação do mandato do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Mas o julgamento foi adiado porque o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), que tem sido o defensor de Suassuna no Congresso, pediu vista do processo. O caso só será retomado após as eleições, no dia 8 de novembro.

Péres concluiu que o senador quebrou o decoro parlamentar ao ser negligente e não punir seu assessor Marcelo Carvalho, acusado no relatório de operar um esquema de desvio de recursos públicos com direcionamento de emendas.

¿ O senador não é um réu sem culpa, vitimado pela traição de seus assessores, mas também vítima dos seus próprios erros. Por isso, sai desse triste episódio com a reputação de tal modo trincada que a sua permanência no Senado contribuiria para fragilizar ainda mais o já abalado prestígio da instituição ¿ disse Péres, no relatório lido ontem.

Ney Suassuna atacou Péres após a leitura do relatório e o acusou de empregar a mulher no gabinete. Péres negou e disse que ela não é lotada nem recebe salário do Senado. Após a sessão, Suassuna acusou o relator de querer aparecer às custas dele, de ¿fazer escada¿ política com o caso:

¿ Péres já declarou estar desiludido com a política. Está desencantado, numa revolta geral, e resolveu me pegar como um símbolo a ser combatido. Como se ele fosse o mais puro, o mais vestal dos políticos.

Suassuna diz que havia ordem para atacá-lo

Suassuna acredita ter votos suficientes para ser absolvido pelo Conselho de Ética. Ele disse que ouviu de jornalistas, sem citar nomes, que a ordem era atacá-lo para, assim, atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apóia, e impedir sua reeleição.

Péres chamou de emblemático o caso de Suassuna e disse que o que está em julgamento é um modelo politico exaurido, em decomposição:

¿ Este processo põe a nu, em toda sua crueza, as relações promíscuas entre os poderes Legislativo e Executivo e também entre parte da classe política e do empresariado.

Marcelo Carvalho só foi demitido por Suassuna após a divulgação do escândalo. Ele direcionava emendas para beneficiar a Planam, empresa de Luiz Antônio Vedoin. Mônica Teixeira, ex-chefe de gabinete de Suassuna, afirmou que Marcelo assinava documentos e emendas com o conhecimento do senador.

No relatório, Péres disse ser emblemática a transferência de R$1,6 milhão do Ministério da Saúde para o Instituto de Pesquisa e Promoção de Educação e Saúde (Ippes), com sede no Rio. No fim de 2005, Suassuna pediu ao então ministro da Saúde Saraiva Felipe a destinação desse dinheiro para a compra de ambulâncias para cidades da Paraíba. Mas, segundo Vedoin, Suassuna enviou ofício ao ministério pedindo que o dinheiro fosse redirecionado para o Ippes. O senador foi alertado pela assessoria parlamentar do ministério sobre a irregularidade.

A assinatura do senador foi falsificada por sua ex-chefe de gabinete Mônica Teixeira, funcionária de carreira do Senado. O ofício foi redigido por outra funcionária de Suassuna, Maria Angélica Soares, e levada à casa de Mônica por Marcelo, para que ela assinasse. Ela admitiu que falsificou a assinatura do senador e disse que sempre fez isso com a autorização de Suassuna.

¿Tal leniência parece no mínimo espantosa¿

¿Suassuna reconhece ter sido alertado pela assessoria parlamentar do Ministério da Saúde sobre um ofício proveniente de seu gabinete e não houve envio de outro ofício desmentindo o anterior. Nem demonstrou ter adotado providências para punir os responsáveis por tamanha violação de confiança que ele teria depositado nos funcionários de seu gabinete. Não afastou os funcionários, não chamou a Polícia Federal para abrir inquérito e sequer mudou a rotina de seu gabinete. Tal leniência parece no mínimo espantosa diante de tão grave tentativa de lesão aos cofres públicos¿, afirma Péres.