Título: PF INVESTIGA SE LEGACY DESLIGOU EQUIPAMENTO
Autor: Bernardo de la Peña e Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 05/10/2006, O País, p. 22

Se piloto não tiver acionado transponder, que permite controle do jato, poderá ser acusado de crime contra segurança aérea

BRASÍLIA e CUIABÁ. A Polícia Federal abriu inquérito ontem para investigar se foi cometido crime contra a segurança do transporte aéreo, além de homicídio, no choque entre um jato Legacy e um Boeing da Gol que causou a morte de 155 pessoas no norte de Mato Grosso, na última sexta-feira. A PF vai apurar se o transponder ¿ equipamento que permite o monitoramento pelo radar e faz parte do sistema anti-colisão da aeronave ¿ do Legacy estava desligado, o que caracterizaria atentado contra a segurança aérea.

O portal de notícias G1 (www.g1.com.br), desenvolvido pela Globo.com, apurou que a Aeronáutica já tem provas de que o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) tentou por várias vezes entrar em contato com a tripulação do Legacy antes do choque, sem obter resposta. Existem registros de todas as comunicações feitas entre o Cindacta e as aeronaves na área.

¿ A própria Aeronáutica já deu informações de que o Transponder estaria desligado. Isso vai ser investigado ¿ afirmou o delegado federal Renato Sayão, responsável pela investigação.

Ainda segundo o G1, a Aeronáutica fez contato com aeronaves que estavam naquele momento na mesma região, inclusive um avião da TAM, que respondeu aos chamados, o que indica que não havia ¿sombra¿ no sistema de comunicação.

Quando entrou na área de colisão, o jatinho aparecia nos radares do Cindacta sem a definição da altura que se encontrava, conforme registrou o radar (primário) do centro. Com isso, o controlador de vôo acionou um segundo radar (secundário) para tentar se comunicar novamente com o piloto ou o co-piloto do Legacy, sem êxito.

O G1 apurou que as hipóteses que estão sendo estudadas pela Aeronáutica são de que a tripulação do jato teria desligado, reduzido o volume do rádio ou abandonado a cabine. A tese de defeito no transponder do Legacy, outra possibilidade, também não foi comprovada porque, tanto no início da viagem como no pouso de emergência, o aparelho estava funcionando.

O transponder fica no painel do avião e envia para o radar em terra um sinal com todas as informações sobre o vôo, como altura e velocidade. Quando ligado, o transponder também aciona o sistema anti-colisão. Se estivesse com defeito ou desligado, o Legacy não perceberia a aproximação do avião da Gol .

Investigações indicam falha humana como causa

Segundo o delegado Sayão, o primeiro passo será ouvir os controladores de vôo de Brasília. Depois, os pilotos americanos do Legacy, Joe Lepore e Jan Paladino.

Responsável pelo inquérito da Polícia Civil, o delegado Luciano Inácio da Silva disse que as investigações, até agora, indicam falha humana, da tripulação do Legacy ou de alguém na torre. Ele vai enviar ofício ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), ligado à Aeronáutica, pedindo a relação dos controladores de vôo que estavam em Brasília e Manaus na sexta-feira. A Polícia Civil quer saber por que o Legacy voava a 37 mil pés entre Brasília e Manaus, a mesma altitude do Boeing da Gol.

Segundo o secretário de Justiça de Mato Grosso, Célio Wilson de Oliveira, as investigações não poderão ser conduzidas ao mesmo tempo pela Polícia Federal e pela Polícia Civil. Segundo ele, a Justiça vai ter que decidir qual das duas ficará encarregada do caso.

* Enviado especial/ ** Especial para O GLOBO