Título: REPÓRTER AMERICANO CRITICA CONTROLE AÉREO BRASILEIRO
Autor: Helena Celestino, Maria Lima e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 05/10/2006, O País, p. 23

Joe Sharkey, do `NYT¿, diz que pilotos do Legacy foram heróis e `estão em apuros¿. Ministro reage chamando-o de irresponsável

NOVA YORK e BRASÍLIA. Joe Sharkey, repórter do ¿New York Times¿ e um dos passageiros do jato Legacy que colidiu em pleno ar com o Boeing da Gol, disse ontem, na NBC, que é preciso ter cuidado com o trabalho dos investigadores brasileiros e que os pilotos, que tiveram os passaportes retidos, ¿estão em apuros¿. Na entrevista ao programa ¿Today¿, Sharkey mais uma vez, a exemplo do que fizera em seu blog, mostrou-se preocupado com os pilotos, que realizaram, segundo ele, um ato heróico e agora estão ¿presos na base aérea brasileira¿. Informação incorreta já que eles estão apenas impedidos de deixar o país.

Em entrevista à TV Globo, o jornalista do ¿NYT¿ criticou o controle aéreo brasileiro, chamando-o de ¿horrível¿, e disse que o Legacy voava a 37 mil pés, ¿sem fazer subidas e descidas bruscas¿. Indagado se os pilotos teriam desligado o transponder, ele respondeu:

¿ Por que fariam isso? Só se fossem loucos.

Ministro diz que perigos são iguais no Brasil e nos EUA

O ministro da Defesa, Waldir Pires, chamou Joe Sharkey de irresponsável por ter classificado o controle de tráfego aéreo brasileiro de ruim e, ao mesmo tempo, elogiado os pilotos do Legacy.

¿ É lamentável que alguém faça uma declaração dessa lá fora ¿ disse o ministro. ¿ O jornalista foi irresponsável.

Para o ministro, o Brasil enfrenta os mesmos perigos aéreos de qualquer parte do mundo, inclusive dos Estados Unidos. Segundo ele, as investigações sobre o acidente que matou 155 pessoas não apontaram, até o momento, os culpados:

¿ É o mesmo que a gente falar aqui dos problemas de Boston e Detroit. Rivalizamos com os melhores sistemas de controle de vôo do mundo, inclusive com os dos Estados Unidos.

Na Aeronáutica, militares disseram ser ridículas as declarações do repórter que não tem conhecimento técnico do assunto. Os militares lembraram que o sistema brasileiro é aprovado pelas autoridades americanas, que não fazem restrição a vôos em território brasileiro. Na visão dos militares, o repórter tenta desviar o foco do noticiário para livrar a responsabilidade dos pilotos do Legacy.

Piloto do Legacy não teria habilitação para jato

Desde o acidente de sexta-feira, o piloto Joe Lepore ligou para a família uma única vez, dizendo que estava bem. Depois disso, a ExcelAire ¿ a empresa de táxi-aéreo dona do Legacy ¿ passou a ser a única a ter contato com os pilotos. Lepore, de 42 anos, é piloto comercial desde 1984 e tem mais de 8 mil horas de vôo. O co-piloto Jan Paladino, de 36, tem 6.400 horas de vôo e trabalha na aviação comercial desde 1996.

No site da FDA ¿ o DAC dos Estados Unidos ¿ não consta que Lapore tenha habilitação para pilotar os aviões da Embraer, mas a ExcelAire alega que o site está desatualizado. A porta-voz da empresa, Liza Hendrickson, no entanto, não enviou ao GLOBO cópia do registro do piloto.

Segundo a FDA, o co-piloto Paladino estava habilitado para comandar o Legacy. O porta-voz da FDA reconhece que a licença de Lepore pode estar sendo processada.

¿ Ele pode ter uma licença provisória ou sua licença provisória estar sendo processada ¿ disse a porta-voz.

Lapore mora em Bay Shore, é casado e tem dois filhos.

Sob o título ¿Brasil investiga causa de colisão no ar¿, o site do ¿New York Times¿ informou ontem que a Justiça havia determinado a permanência dos pilotos no Brasil. O site da rede CBS News noticiou o caso com uma pergunta no título: ¿Erro dos pilotos americanos na colisão aérea no Brasil?¿. Já o ¿New York Daily News¿ assinala que os pilotos foram tratados como heróis pelos passageiros do jato e como vilões pelos brasileiros.

* Correspondente

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