Título: Ibope & Datafolha
Autor: Míriam Leitão
Fonte: O Globo, 05/10/2006, Economia, p. 38

Datafolha e Ibope acham que a eleição presidencial neste segundo turno é imprevisível, mas com o favoritismo do presidente Lula. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, acha que o Rio pode ser decisivo, mas alerta que o apoio do grupo Garotinho pode ter efeito negativo. O diretor do Datafolha Mauro Paulino acha que, daqui para diante, serão cada vez mais comuns os grandes movimentos de mudança de voto no último momento.

¿ Serão cada vez mais comuns estes grandes movimentos de mudança, pois o eleitor brasileiro está mais íntimo do voto e pensa cada vez mais perto da hora de votar ¿ diz Mauro Paulino.

Até na pesquisa de boca-de-urna, de vez em quando, não é possível captar o movimento integralmente, porque toda pesquisa feita no dia da eleição tem que ser encerrada até as 14h30m, para que os dados sejam tabulados e divulgados às 17h. O eleitor que deixa para votar mais tarde costuma ter outro perfil, e isso interfere na informação.

Conversei com os dois ontem no ¿Espaço Aberto¿, da Globonews, num programa que será repetido hoje às 8h30m e às 15h30m. Há uma diferença nesta eleição que a torna única: é a primeira vez que um presidente no cargo disputa a eleição num segundo turno.

¿ Neste aspecto, esta eleição é inédita ¿ comentou Mauro Paulino.

¿ Segundo turno é sempre um clássico, que é afetado por tudo: cobertura da imprensa, declarações, alianças ¿ algumas ajudam outras, não ¿ cascas de banana, debates. Neste, os debates serão muito importantes ¿ afirma Montenegro.

E o apoio do grupo Garotinho? Agrega ou desagrega?

¿ O Rio está estupefato. O Rio é um voto importante, porque sempre foi oposicionista e foi aqui que houve a maior votação da Heloísa Helena. Dependendo da reação do eleitorado ao apoio de Garotinho, o Rio pode anular a vantagem de Alckmin em São Paulo ¿ acredita Montenegro.

As declarações nos jornais feitas por Alckmin e seus aliados são de que ¿apoio não se recusa¿. Será que não? Então que os tucanos não cobrem de Lula o abraço em Newton Cardoso, nem o beijo na mão de Jader Barbalho. Os dois presidentes dos institutos de pesquisa de opinião estavam impressionados com as primeiras reações que estão vendo nas ruas. Mauro Paulino veio ouvindo do motorista de táxi que, após aquele apoio, não votaria em Alckmin. Montenegro também ouviu coisas semelhantes. Claro que as pesquisas é que dirão, mas, para quem queria encarnar o discurso ético, o apoio de pessoas tão controversas e vulneráveis a acusações tira a consistência do discurso. Alckmin não ganhou um apoio, abriu um flanco.

O Ibope fará uma pesquisa na próxima terça-feira, o Datafolha estará hoje e amanhã em campo para divulgar, no ¿Jornal Nacional¿ de sexta-feira e na ¿Folha de S.Paulo¿ de sábado, a primeira pesquisa após o primeiro turno. Mauro Paulino lembra o movimento que vinha acontecendo antes das eleições:

¿ O presidente Lula começou o mês de setembro com 12 pontos à frente da soma dos demais candidatos; a partir do dossiê, começou a cair e chegou a 8 pontos. Na terça-feira anterior, chegou a 5 pontos e, com o debate, acentuou a queda. A diferença desapareceu na boca-de-urna.

Mauro Paulino contou também que, na simulação de segundo turno em 2005, havia 26 pontos de diferença entre Lula e Alckmin. Após a entrevista de Roberto Jefferson, a diferença foi caindo até chegar, no fim de 2005, empatados em 45 a 44. Depois, Lula melhorou a diferença: voltou para 18 pontos; daí, caiu até os 5 pontos na pesquisa feita na véspera da eleição.

¿ Uma característica das mudanças de segundo turno é que elas são mais rápidas, cada ponto ganho por um é perdido por outro, cada ponto vale dois. Isso torna esta eleição imprevisível. Lula sai com vantagem, mas ela está muito equilibrada ¿ diz Mauro Paulino.

Montenegro brincou que Lula só não levou no primeiro turno porque houve uma aliança PFL-PSDB e PT para levar ao segundo turno:

¿ Foi uma trapalhada total. Tentaram mexer numa eleição perdida, não conseguiram nada e ainda perderam o primeiro turno.

Os dois acham que o país continuará assim dividido: Norte e Nordeste agradecidos votando em Lula; Sul e Sudeste, mais ácidos, votando contra; e Minas equilibrada, com leve vantagem para Lula. Paulino lembrou que a abstenção no Nordeste continua a mais alta, mas foi a que mais caiu nesta eleição: nas outras regiões, a queda foi de 6%; no Nordeste, caiu 14%.

Montenegro conta que, na Bahia, havia muito indeciso, e as mudanças foram fortes, e na última hora. No Rio Grande do Sul, por contrato, o Ibope parou de pesquisar na quinta-feira, quando o movimento a favor de Yeda Crusius estava no início. A maior surpresa que ele teve, admite, foi a vitória de Francisco Dornelles para o Senado no Rio. A derrota do carlismo diz que é resultado do ¿cansaço com as dinastias¿, que levou também Roseana para o segundo turno e ameaçou a candidatura de Sarney ao Senado no Amapá.

Saber quem vai ganhar a eleição ninguém sabe, obviamente, afinal o eleitor é soberano. O que Montenegro e Mauro Paulino garantem é que os próximos 25 dias serão emocionantes.