Título: PETROBRAS CONFIRMA ÓLEO LEVE EM SANTOS
Autor: Juliana Rangel
Fonte: O Globo, 05/10/2006, Economia, p. 41

Testes revelaram quantidades significativas em águas ultraprofundas. `Royalties¿ serão do Rio

A Petrobras informou ontem que existe uma quantidade significativa de petróleo leve ¿ de boa qualidade e maior cotação no mercado internacional ¿ em uma nova fronteira exploratória, na Bacia de Santos: abaixo de uma camada de sal de dois mil metros de espessura, em águas ultraprofundas. Em julho, a empresa anunciara a existência de indícios de petróleo na região, mas faltavam testes no poço 1-RJS-628A, perfurado a 2.140 metros do nível do mar. Ainda são necessários investimentos para a avaliação completa do volume do reservatório.

Especialistas já disseram que pode existir uma nova Bacia de Campos ¿ que representa, com cerca de 10 bilhões de barris de petróleo, 80% das reservas do país ¿ a mais de seis mil metros do nível do mar, abaixo da camada de sal, inclusive em Santos, onde a maioria das descobertas é de gás natural.

A expectativa é que os royalties da produção fiquem com o Rio. Segundo o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do estado, Wagner Victer, apesar de o bloco ficar na Bacia de Santos, está localizado em frente ao Rio, na direção de Mangaratiba, da capital fluminense e de Angra dos Reis:

¿ Além disso, muito da infra-estrutura do Rio poderá ser usada no desenvolvimento da produção, como os portos de Niterói.

O presidente da Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo (ABGP), Marcio Rocha, afirmou que para uma reserva de petróleo ser comercialmente viável abaixo da camada de sal, precisa ter, no mínimo, 700 milhões de barris. Mas, segundo ele, o fato de a Petrobras ter confirmado ¿quantidades significativas¿ abre um novo horizonte de exploração no Brasil:

¿ A Petrobras tinha muito medo, sob o ponto de vista tecnológico, de se aventurar abaixo da camada de sal, porque a perfuração é muito cara. Um poço normal custa em torno de US$35 milhões. Abaixo da camada de sal, custa de US$100 milhões a US$110 milhões, mas vale a pena, porque o prêmio será muito maior.

Os campos de Badejo e Linguado, na Bacia de Campos, já produzem abaixo da camada de sal, mas em águas rasas.

¿ A Petrobras, algum tempo atrás, achava que as rochas geradoras abaixo do sal estavam muito compactadas, sem permeabilidade. Com essa confirmação em Santos, fica provado que a camada de sal age como amortecedora tanto para a compactação quanto para a temperatura ¿ explicou Rocha.

Os testes foram feitos em um poço vertical, que propiciou o escoamento de 4.900 barris de petróleo e 150.000 metros cúbicos de gás natural por dia. O bloco é operado pela Petrobras (65%), com a britânica BG (25%) e a portuguesa Petrogal (10%). Segundo a Galp Energia, controladora da Petrogal, o bloco pode chegar a produzir nove mil barris de petróleo e 250 mil metros cúbicos de gás por dia.

O óleo leve corresponde a 11% da produção da Petrobras, que pretende dobrar o volume em cinco anos. A maior parte do petróleo extraído no país é pesada, mas as refinarias estão preparadas para processar mais o leve. Por isso, o Brasil exporta e importa. Se as reservas abaixo da camada de sal puderem ser extraídas, isso reduzirá a necessidade de importação.

(*) Com agências internacionais