Título: Arcos e alianças
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 06/10/2006, O GLOBO, p. 2

O presidente Lula, que nunca teve paciência para assentar tijolos e encaixar as peças da construção política, começou levando a melhor sobre o concorrente Geraldo Alckmin na montagem das alianças para o segundo turno. Isso não o ajuda, entretanto, a desatar o nó cego do caso do dossiê. O ambiente é tenso na cúpula do PT, que hoje tenta dar uma resposta política ao escândalo.

Depois de resolver satisfatoriamente a situação no Rio, ele começou a assegurar ontem o apoio da candidata pefelista ao governo do Maranhão, Roseana Sarney. Alckmin já admitiu que errou na forma como recebeu o apoio dos Garotinho no Rio. A fotografia quebra-lhe o chicote ético que vinha brandindo contra Lula. Não tendo consultado com mais calma os aliados, provocou a ira do prefeito Cesar Maia e até a extravagante opção de sua candidata ao governo, Denise Frossard, pelo voto nulo, da qual ontem recuou.

Também ontem surgiram problemas na Bahia, onde o candidato desembarcou para uma visita ao senador Antonio Carlos Magalhães sem prévia articulação com o PSDB local, liderado pelo deputado Jutahy Júnior. Girando a metralhadora contra o carlismo, Jutahy declarou ter votado no candidato petista ao governo, Jaques Wagner. Isso era previsível. Pelo mesmo motivo ¿ o apoio de ACM a FH em 1994 ¿ Jutahy apoiou Lula.

O PSDB não conseguiu ¿ talvez a mágoa não tenha deixado mesmo ¿ atrair o governador peemedebista do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que decidiu ficar neutro. A candidata tucana ao governo, Yeda Crusius, teve um desempenho formidável. Ultrapassou Rigotto e o petista Olívio Dutra e chegou ao segundo turno como mais votada. O apoio do governador ampliaria a boa votação que Alckmin teve no estado e reforçaria Yeda no confronto com o petista.

Alckmin ganhou ontem o apoio de Roberto Jefferson, o homem que detonou o valerioduto e a crise de 2005. Prometeu-lhe o apoio de 75% do PTB. A outra ala do partido está com Lula, é a do ministro Mares Guia. Alckmin terá o qualificado apoio da maioria do PV, mas não oficialmente. O mesmo deve ocorrer com o PDT, que adiou a decisão.

Lula, ainda sob a vertigem do resultado de domingo, deflagrou as negociações para formar seu bloco elegendo corretamente o Rio como primeira prioridade. No chamado triângulo das bermudas, Minas e São Paulo elegeram governadores do PSDB no primeiro turno. Ali, os problemas terão que ser enfrentados de outro modo. Alckmin deu-lhe banho em São Paulo e, com a ajuda de Aécio, fez encolher sua votação em Minas. No Rio, há segundo turno e os votos se dividiram visivelmente. Lula foi o mais votado (48%), mas Heloísa Helena teve 17% e Alckmin, 28,8%. Se não podia nem cogitar o apoio de Denise Frossard, só restava a Lula assegurar logo o de Sérgio Cabral, do PMDB, mais votado no primeiro turno. Cabral sofreu pressões, muitas, para apoiar Alckmin. Diziam-lhe que, se fizesse isso, o eleitorado de Lula, sem ter para onde correr, votaria nele de todo jeito. Lula o cercou e convenceu Vladimir Palmeira (PT) e Crivella (PRB) a lhe darem apoio. Obteve ainda o apoio do senador eleito Francisco Dornelles (que foi também muito pressionado pelos tucanos), depois de neutralizar qualquer reação da aliada Jandira Feghali, que Dornelles derrotou. Se Garotinho pode ajudar Alckmin no interior do Rio, Dornelles tem igual potencial. Ganhou em 89 dos 92 municípios.

Ontem, Lula ligou para Roseana, ofereceu-lhe apoio e aliança de reciprocidade. Ela hoje reúne seu grupo político para formalizar a aliança com o presidente. Terá problemas com o PFL, cujo presidente, Jorge Bornhausen, já disse que não aceitará que ela faça campanha por Lula filiada ao partido. O adversário de Roseana, Jackson Lago, do PDT, ficará com Alckmin.

Em Minas, a campanha de Lula ficará por conta da força-tarefa integrada pelo prefeito da capital, Fernando Pimentel, o vice José Alencar e os ministros Mares Guia, Patrus Ananias e Hélio Costa.

Mas o caso do dossiê continua em banho-maria. A qualquer hora levanta fervura e o adversário voltará a usá-lo contra Lula.