Título: VLADIMIR OFICIALIZA APOIO A CABRAL: `NÃO TEM PERFEIÇÃO NA VIDA POLÍTICA¿
Autor: Bernardo Mello Franco, Cássio Bruno e Valéria Mani
Fonte: O Globo, 06/10/2006, O País, p. 4

Candidato do PMDB elogia Lula e chama petistas de companheiros

O PT fluminense embarcou ontem oficialmente na campanha do candidato do PMDB ao governo do estado, Sérgio Cabral, que agora apóia a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de chamar o senador de medíocre na campanha do primeiro turno, o candidato derrotado do PT ao Palácio Guanabara, Vladimir Palmeira, foi enfático ao defender a aliança.

¿ Como o Cabral apoiou o Lula, é perfeitamente legítimo apoiá-lo para governador. Nós achamos que o apoio de Cabral a Lula é decisivo. Essa não é uma aliança que me é imposta, eu a defendi. Vou votar no Cabral, certamente ¿ disse o petista, que posou para fotos abraçado com o novo aliado.

Cabral selou a aliança com Vladimir no diretório estadual do PT, no Centro do Rio, decorado com fotos do peemedebista e de Lula lado a lado. Acompanhado de adversários históricos do partido no estado, como o senador eleito Francisco Dornelles (PP) e o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), o senador chamou os petistas de companheiros e foi recebido com palmas e gritos de ¿Cabral governador¿. Ao anunciar que a aliança foi aprovada por unanimidade, o presidente regional do partido, Alberto Cantalice, classificou a união como um fato ¿histórico¿.

¿ Essa aliança entre Lula e Sérgio Cabral, PT e PMDB, vai trazer a redenção para o Rio. É a verdadeira construção da esquerda democrática e a união das forças populares. Vamos à vitória ¿ bradou Cantalice, na abertura do encontro.

¿Não se faz política sem incômodo¿, diz petista

Mascando chicletes e com olhar distante, Vladimir demonstrou constrangimento durante o discurso de Cabral, que elogiou sua trajetória no movimento estudantil e referiu-se a ele como ¿grande líder¿. Depois do ato, o petista disse ter sentido desconforto ao dividir a mesa com Dornelles e Picciani.

¿ Você não faz política sem algum tipo de incômodo. Na vida política, você não pode escolher ao lado de quem se senta. É justo ou não é justo apoiar Cabral para governador? O resto é questão de luxo ¿ disse.

Vladimir admitiu a decisão de apoiar Cabral seria ¿polêmica¿ e disse estar certo de que perderá parte de seus eleitores, que não aprovariam a aliança com o PMDB, cujo presidente regional é o ex-governador Anthony Garotinho.

¿ Vou perder voto? Vou. Agora mesmo, na rua, um cabra me parou e disse: ¿Vladimir, vai apoiar o Cabral? Não voto mais em você¿. Esse eu perdi, paciência. Mas é assim. Não tem perfeição na vida política ¿ disse.

No ato, ao lado da ex-governadora petista Benedita da Silva, que coordena a campanha de Lula no estado, Cabral elogiou o presidente e voltou a dizer que representa a centro-esquerda na disputa contra a candidata do PPS ao governo do estado, Denise Frossard.

¿ Estamos fundando aqui a grande parceria de centro-esquerda, do campo popular, no estado do Rio. Estou dando as mãos a um trabalhador que teve a responsabilidade de romper o cerco do preconceito e que, na presidência da República, demonstrou seu compromisso com o povo, que é Luiz Inácio Lula da Silva ¿ disse o peemedebista, muito aplaudido pelos petistas.

Cantalice e Cabral disseram que a aliança não envolveu a negociação de cargos num eventual governo do peemedebista. Antes do encontro, Vladimir disse não saber se vai subir no palanque de Cabral, mas afirmou que cumprirá qualquer decisão do partido:

¿ Vim aqui para recebê-lo. Depende do que o partido me reserva. Agora sou um quadro de base. Fui porta-voz até agora, como candidato. O que o partido determinar, vou fazer. Se a executiva me ordenar....

Vladimir: ¿Não passei uma borracha no passado¿

Questionado sobre as críticas que fez a Cabral no primeiro turno, o petista disse não se arrepender de nada.

¿ A minha disputa com Cabral acabou domingo. Já disse tudo o que pensava do PMDB, Cabral e Garotinho. O que eu disse na eleição está dito, e eu não me arrependo de nada. Nós sempre fizemos oposição aqui ao PMDB. Essa decisão não passa uma borracha no passado, de jeito nenhum. Segundo turno é isso: a gente tem que fazer o que existe.

O petista evitou dizer se concordava com o novo discurso de Cabral, que agora se apresenta como representante da centro-esquerda na disputa pelo governo do estado.

¿ Cada um se define como quer. Não me interessa falar do Cabral, me interessa falar mal do Alckmin e do PSDB.