Título: PODEMOS DAR O TROCO NAS URNAS¿, DIZ GRUPO GAY
Autor: Cláudia Lamego
Fonte: O Globo, 06/10/2006, O País, p. 11

Cláudio Nascimento, do Arco-Íris, lamenta que Cabral tenha retirado o projeto em nome de `acordos esdrúxulos¿

A notícia de que o senador Sérgio Cabral, candidato a governador pelo PMDB, retirou o projeto, de sua autoria, que previa mudanças na Constituição para que fosse permitida a união civil entre homossexuais causou protestos na comunidade GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) do Rio. Para Cláudio Nascimento, coordenador de articulação política do grupo Arco-Íris, Cabral vai perder votos:

¿ A notícia caiu como uma bomba atômica para a comunidade GLBT. Mas a gente pode dar o troco nas urnas. Muitas pessoas da comunidade já tinham declarado voto no Cabral. Espero que ele reveja sua posição. Não admitimos mais mistura entre Estado e religião, e exigimos um distanciamento concreto.

Nascimento afirmou ter estranhado a posição contraditória de Cabral. Para o integrante do grupo Arco-Íris, o senador sempre foi um defensor dos direitos dos homossexuais, tanto que elaborou o projeto de emenda constitucional e ainda foi co-autor de uma lei na Assembléia Legislativa do Rio que prevê o direito à pensão dos parceiros homossexuais de funcionários:

¿ O que nos preocupa é que nesse processo das negociações para composição de forças políticas o tema dos direitos humanos e dos homossexuais sejam sempre colocados como bola da vez. Outra preocupação é que setores das igrejas insistem em interferir nas ações do Estado brasileiro. Nesta campanha, o próprio Cabral e a Denise Frossard foram vítimas de panfletos que os acusavam de serem contra a família.

¿Vai haver uma revoada de perda de votos¿

Nascimento informou que vai convocar uma reunião já neste fim de semana para discutir o posicionamento de Cabral.

¿ Isso é um casuísmo que prejudica Cabral como candidato. Ele já até participou da parada do Orgulho Gay. É uma pena que, em nome de acordos esdrúxulos, ele coloque em risco sua própria trajetória em relação aos direitos dos homossexuais. Acho que esse caso vai ter conseqüência bem dura. Vai haver uma revoada de perda de votos.

Cabral minimizou a reação do grupo Arco-Íris e disse ter estranhado a falta de apoio da comunidade gay ao seu projeto no Senado.

¿ Por que eles não brigaram pela tramitação do projeto no Senado? Eles lutaram pela lei, minha e do deputado Carlos Minc (PT-RJ), dos direitos previdenciários na Alerj. Mas não foram ao Congresso brigar pelo meu projeto. Nunca ouvi uma entidade defender o meu projeto. Há uns oito meses várias entidades foram ao Congresso mas preferiram falar da lei da Marta (Suplicy) sobre a parceria civil ¿ respondeu Cabral.