Título: PARA POUPAR LULA, BERZOINI SE LICENCIA DO PT
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 07/10/2006, O País, p. 9
Após deixar coordenação da campanha, ele se afasta da presidência do partido; origem do dinheiro ainda não foi revelada
SÃO PAULO. Menos de uma semana depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter deixado escapar a vitória no primeiro turno e atribuir o revés ao escândalo da compra do dossiê contra tucanos por petistas, o deputado federal Ricardo Berzoini (SP) licenciou-se ontem da presidência do PT. Após reunião de seis horas no diretório nacional, Berzoini leu nota anunciando a decisão.
O texto diz que a opção pelo licenciamento se deu em benefício da unidade do PT e que Berzoini permanecerá afastado pelo prazo necessário para o esclarecimento dos fatos que envolveram filiados ao partido com a compra do dossiê. Em seu lugar assumiu o primeiro vice-presidente, Marco Aurélio Garcia, que em entrevista disse querer se livrar ¿deste abacaxi muito pronto¿ para devolver o cargo ao amigo. Três semanas depois das prisões, ainda não se sabe de onde saiu o R$1,7 milhão apreendido com petistas e que seria utilizado na compra do dossiê.
Na nota, Berzoini reafirma que não incentivou nem concordou com ilegalidades ou irregularidades nos assuntos sob sua responsabilidade. ¿Minha licença tem como objetivo demonstrar compromisso com o caráter coletivo do projeto, que dispensa qualquer conveniência pessoal¿.
O afastamento de Berzoini era considerado decisivo por parte da executiva e pelo próprio Lula, que não queria ir ao debate amanhã na TV Bandeirantes e ter de responder pela permanência de Berzoini, ainda mais depois que o nome do deputado foi envolvido no caso. Por ter sido eleito (ano passado, no meio do escândalo do mensalão), Berzoini não poderia ser destituído. Só sairia do cargo por decisão própria. Desligado da coordenação da campanha, ele vinha perdendo apoio no PT. A situação piorou com a frustração do resultado do primeiro turno e de Lula ter dito que o dossiê foi ato de ¿aloprados¿ postos na campanha por Berzoini.
Antes da reunião, petistas diziam claramente que o melhor seria ele abrir mão do cargo.
¿ É melhor Marco Aurélio tocar o partido neste período. Berzoini é um quadro importante e devemos preservá-lo, mas é preciso que se afaste ¿ disse a deputada Maria do Rosário (RS).
A mesma opinião foi expressada por Renato Simões (SP), deputado estadual do PT.
¿ Vamos esperar ele se explicar, mas essa história está sendo um fardo e a situação dele é insustentável.
Petistas que participaram da reunião afirmaram que Berzoini queria permanecer no cargo, mas discursos a favor do afastamento foram se sucedendo e ele foi convencido de que o mais importante era a reeleição de Lula. Para não passar a impressão de que estava sendo condenado pelo PT e envolvido com o escândalo, optou-se pelo licenciamento temporário. Berzoini confirmou que foi convencido pelos companheiros, mas negou ter sido pressionado.
¿ Refleti com todos os membros da executiva. Foi um debate produtivo que me levou a tomar esta posição a partir de opiniões diferentes. Procurei fazer uma média das opiniões e ter uma posição que fosse conseqüente com minha história de militância.
O deputado deu a entender que pretende retomar a função após a eleição, quando a executiva volta a se reunir. Perguntado se sua saída aliviará a pressão da oposição sobre Lula, Berzoini disse que não acredita.
¿ Este tema sempre pode ser levantado nos debates, independentemente da minha presença na presidência do partido.
Garcia elogiou Berzoini, em quem disse ter votado:
¿ A decisão reitera o seu comportamento militante. Esta atitude desprendida e madura deve ser entendida como o que esperamos dos petistas.