Título: PT `EXPULSA POLITICAMENTE¿ ALOPRADOS DO DOSSIÊ
Autor: Chico de Gois e Plinio Teodoro
Fonte: O Globo, 07/10/2006, O País, p. 10

Medida é inovação porque estatuto do partido exige processo na comissão de ética para depois punir militantes

SÃO PAULO. Na mesma reunião em que foi decidido o afastamento temporário do presidente do PT, Ricardo Berzoini, o partido expulsou politicamente os petistas envolvidos na compra do dossiê contra candidatos tucanos. A medida é uma inovação, uma vez que o estatuto do partido não prevê essa punição. Para que algum militante seja expulso da legenda deve responder a um processo na comissão de ética. Só depois de a comissão analisar o caso pode recomendar a punição, que vai de advertência a expulsão.

A mesma resolução da executiva que propõe a ¿expulsão política¿ informa que abrirá processo na comissão de ética para os filiados envolvidos que ainda não se desfiliaram do partido. O novo presidente do partido, Marco Aurélio Garcia, no entanto, disse que mesmo os petistas que já se desfiliaram, como Hamilton Lacerda e Jorge Lorenzetti, responderão a processo para expulsão. Os outros dois petistas envolvidos com a compra do dossiê e que estão sendo expulsos são Oswaldo Bargas e Expedito Veloso. Valdebran Padilha, que participou das negociações com a família Vedoin, já foi afastado pelo PT do Mato Grosso e responde a processo na comissão de ética. Será expulso na semana que vem.

A resolução da executiva nacional afirma que o partido, seus militantes e sua direção foram surpreendidos com a notícia de que um grupo de filiados havia negociado com a família Vedoin um dossiê com informações sobre a atuação da quadrilha dos sanguessugas no governo Fernando Henrique, nas gestões de José Serra e Barjas Negri no Ministério da Saúde.

¿Promiscuidade com criminosos¿

O documento da executiva afirma que os filiados ¿não consultaram a direção do PT¿ nem ¿os candidatos¿ do partido, numa referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao senador Aloizio Mercadante, candidato derrotado ao governo de São Paulo. O dossiê beneficiaria indiretamente a candidatura de Mercadante, mas isso não aconteceu e o tucano Serra venceu no primeiro turno.

De acordo com o texto distribuído à imprensa, a executiva nacional do PT ¿repudia a atitude desses filiados, considera um equívoco substituir a disputa de projetos por este tipo de prática, condena a promiscuidade com um grupo de criminosos, bem como o total desrespeito à democracia partidária¿.

Com o documento, o PT espera reduzir os danos causados pelo episódio do dossiê à campanha de Lula. Para demonstrar que o partido não compactuou com a prática dos militantes, o texto reforça a expulsão, que serve apenas como indicativo à comissão de ética. ¿Os filiados que assim agiram colocaram-se, na prática, fora do partido. E, por decisão da executiva nacional, estão politicamente expulsos do PT¿.

Ontem, antes do início da reunião da executiva, Hamilton, ex-coordenador de comunicação da campanha de Mercadante, entregou o pedido desligamento do PT. Um dia antes, Lorenzetti fizera o mesmo junto ao diretório do PT em Florianópolis.

Hamilton havia comunicado na noite anterior ao diretório nacional sua decisão de sair do partido. No texto, ele agradece a solidariedade dos companheiros e se coloca à disposição para oportunamente expor seus motivos, sem mais detalhes. A carta foi endereçada a Ricardo Rios, presidente do diretório municipal do PT de São Caetano do Sul, no ABC paulista, com cópias para o então presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini, e para Paulo Frateschi, presidente estadual do PT.