Título: ENTRE OS 25 PRESOS, TRAFICANTES E POLICIAIS
Autor: Bernardo de la Peña e Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 07/10/2006, O País, p. 19

Quadrilha, que atuava em Rondonópolis, contava com a proteção de autoridades

Um dos traficantes beneficiados por decisão do juiz Campos Filho, preso ontem em flagrante pela Polícia Federal, durante a Operação Overlord, foi Antônio Borges de Oliveira, conhecido como Guri, que cumpria pena por tráfico internacional no presídio da Mata Grande. Mesmo contrariando parecer do Ministério Público Estadual, o magistrado permitiu sua progressão de regime em julho de 1999, colocando-o nas ruas. A decisão beneficiou dois cúmplices de Guri, os bolivianos Apolinar Padilha Arauz e Simar Vaca Chávez.

PF descobre participação de autoridades no tráfico

Campos Filho se aposentou há cerca de um mês. No domingo de eleição, ele já havia sido detido por cerca de seis horas, acusado de fazer boca-de-urna em Itiquira, a 350 quilômetros ao sul de Cuiabá.

Durante a investigação sobre a quadrilha de traficantes, a PF descobriu a participação de autoridades do estado que contribuíam com o tráfico de drogas em Rondonópolis.

Os 25 detidos responderão pelos crimes de tráfico de entorpecentes, associação ao tráfico de drogas, corrupção ativa e passiva, prevaricação, concussão, formação de quadrilha, tráfico de influência, falso testemunho, falsidade ideológica, violação de sigilo funcional, extorsão e exploração de prestígio.

Ao todo, foram expedidos 24 mandados de prisão ¿ o juiz foi preso em flagrante ¿ e 28 mandados de busca e apreensão. A operação foi realizada por policiais federais com o acompanhamento da corregedoria da Polícia Civil do estado de Mato Grosso. A Polícia Federal mobilizou 120 policiais. Segundo o superintendente da PF no estado, Geraldo Pereira, durante as investigações descobriu-se que boa parte da força policial de Rondonópolis havia sido cooptada pelos traficantes.

¿ Policiais e advogados combinavam como fazer o flagrante de um preso de modo a deixar brechas ¿ explicou.

O preço para a liberação de um traficante era de R$1 mil, em média.

¿ Os inquéritos eram propositalmente mal-instruídos, de modo a permitir a soltura dos acusados ¿ explicou o delegado federal Biegas.

Ontem, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública estudava o remanejamento de policiais para manter o funcionamento da delegacia da Vila Operária, em Rondonópolis, onde foram presos a única delegada e todos os oito agentes.

Os advogados Anatalício Villamaior, João Batista Borges Júnior, Marco Antônio Chagas Ribeiro e Mauro Márcio Dias Cunha também tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça em Rondonópolis.

* Enviado especial **Especial para O GLOBO