Título: Dólar cai, festa no varejo
Autor: Erica Ribeiro, Aguinaldo Novo e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 07/10/2006, Economia, p. 41

Comércio estima queda de até 25% no preço de importados para o fim de ano

Abaixa cotação do dólar e a negociação de grandes volumes com fornecedores vão garantir aos consumidores, no fim do ano, a compra de produtos importados até 25% mais baratos no varejo. Entre os itens que deverão ficar mais em conta estão alimentos, bebidas e eletrodomésticos, alguns já nas prateleiras a partir de novembro.

Tradicional rede de eletrodomésticos e móveis, com lojas no Rio, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, as Lojas Cem dizem que a participação dos produtos importados vai aumentar de 2% para 4% do faturamento até o fim do ano. Isso corresponderá a uma receita anual de R$48 milhões com a venda de itens como aparelhos celulares, câmeras digitais e aparelhos de DVD. O item mais recente incluído na lista de vendas do grupo é o iPod, o tocador de MP3 da Apple.

¿ Indiscutivelmente, a expansão (da fatia dos importados) é uma realidade. Nunca esteve tão barato ¿ disse o supervisor-geral das Lojas Cem, Valdemir Colleoni.

Segundo ele, em média os importados estão com preços 25% menores do que há um ano. Em casos específicos, o desconto é ainda maior. Um DVD vendido em 2005 por R$350 pode ser encontrado hoje por R$199, uma queda de 43%.

¿ Da mesma marca e modelo ¿ reforça Colleoni.

Em um boletim divulgado esta semana, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o real valorizado terá um impacto significativo nas importações, especialmente para as festas de fim de ano. De acordo com os números da balança comercial, em setembro, as importações de bens de consumo cresceram 55,5%, tendo à frente eletrodomésticos, eletroeletrônicos, roupas, bebidas e tabacos. As importações totais no mês passado subiram 35%, para US$8,121 bilhões, enquanto as exportações cresceram a um ritmo menor, de 23,9%.

Vinhos da França disputam com Chile

Na rede de supermercados Zona Sul, os produtos importados deverão responder por 40% das vendas no fim do ano, afirma o diretor comercial, Jaime Xavier. Segundo ele, a empresa já negociou produtos para as festas de dezembro e os preços, em geral, devem permanecer os mesmos na comparação com igual período de 2005. Em alguns casos, ficarão até menores, em função da queda das cotações do dólar e do euro.

¿ Neste fim de ano teremos produtos especiais, como o legítimo presunto de Parma italiano. Além disso, já fechamos a encomenda de uma linha de espumantes franceses, que será exclusiva da rede. Há também espumantes italianos, como o La Perla, cuja estimativa de preço é de R$29,98. Fora itens tradicionais, como bacalhau, nozes, salmão e cerejas chilenas.

O diretor do Zona Sul afirmou que, por negociar ao longo de todo o ano encomendas de importados, não tem dificuldades para discutir melhores preços com os fornecedores. Ele adiantou que o bacalhau do Porto será vendido de 10% a 15% mais barato em relação ao ano passado. O quilo do bacalhau do Porto em postas deverá custar R$66,90.

A briga entre fabricantes de vinhos e espumantes da França com os produtores de países como Chile, Argentina e África do Sul por consumidores também está ajudando a baratear os produtos. A iniciativa de baixar preços vem da França. Segundo Fernando Cabral, proprietário da rede de lojas Lidador, haverá vinho francês à venda com preços abaixo de R$20 e espumantes por cerca de R$22, para concorrer com o prosecco italiano.

Bacalhau, frutas secas e outros itens ainda estão em fase de negociação, diz Cabral, que espera manter os mesmos patamares de preço de 2005. No caso do bacalhau Gamos Murroa, da Noruega, que ano passado custava R$80 o quilo e se manteve com o mesmo preço nas lojas da rede, a expectativa de Cabral é reduzir o preço para R$75. Ele espera um aumento de pelo menos 20% nas vendas em relação ao ano passado.

A rede de supermercados Wal-Mart aumentou em 40% os estoques de frutas frescas e secas e em 20% o de bacalhau. A empresa informou que toda a diferença conseguida nas negociações com fornecedores será repassada para o preço ao consumidor. Genival de Souza Bezerra, diretor da rede de supermercados Prezunic, projeta uma redução em torno de 5% nos preços dos produtos. Ele só não garante preços mais em conta para o bacalhau:

¿ Já fechamos toda a negociação com fornecedores, e a tendência é termos preços iguais ou melhores que em 2005. No caso do bacalhau, o aumento deverá ser em torno de 20%, mesmo percentual de aumento colocado pelos importadores, devido à falta do produto no mercado. Mas teremos produtos, como vinhos chilenos e argentinos, abaixo de R$13 ¿ afirmou.

A maior força dos importados também é uma realidade no setor de brinquedos, que vive tempos agitados às vésperas do Dia da Criança (que concentra 40% das vendas no ano). De acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), a participação dos importados deve crescer este ano de 30% para 40% do total de vendas.

Outra mudança tem a ver com o perfil dos produtos. Segundo Synésio Batista da Costa, presidente da entidade, 70% dos brinquedos custam até R$30. No ano passado, esse percentual chegava a 75%.

¿ Existem sinais consistentes de aceitação de produtos com maior valor agregado e com preços um pouco maiores ¿ disse ele.

A valorização do real e a forte concorrência da China impulsionaram a importação de produtos acabados no primeiro semestre do ano, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). De janeiro a julho, as importações de eletroeletrônicos de consumo registraram crescimento de 60,18%, atingindo US$292,86 milhões, em comparação a US$182,83 milhões em igual período de 2005.

O gerente-geral da Brasif, Sherlon Adley, aproveitou a queda do dólar para trazer 16 novas marcas importadas e reforçar estoques de itens já existentes, com produtos que vão de óculos e relógios a aparelhos eletrônicos. Segundo ele, muitos produtos estão até 30% mais baratos em relação a 2005, e o ganho na negociação será repassado ao consumidor. A Brasif deve fechar o ano com aumento de 25% nas vendas, na comparação com o ano passado.

NOVAS NORMAS DA RECEITA FEDERAL DARÃO AGILIDADE À IMPORTAÇÃO, na página 42