Título: A hora do confronto entre Lula e Alckmin
Autor: José Casado e Maria Lima
Fonte: O Globo, 08/10/2006, O País, p. 3

Candidatos radicalizam ao entrar na fase decisiva e partidos se municiam de acusações mútuas

Éhora do confronto. Sem diferenças fundamentais nas propostas, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin anunciam um duelo de estilos, a partir de hoje no primeiro debate na televisão, previsto para as 20h30m na Rede Bandeirantes.

Lula lidera nas pesquisas mas, depois de ver esvair o sonho da eleição no primeiro turno, abandonou a postura quase olímpica de favorito, decidido a partir para o ataque. Alckmin reafirmou sua disposição para a guerra. Se confirmarem, o país assistirá a um inédito duelo eleitoral nesta campanha, na televisão e nas ruas.

¿ Cadê o dinheiro (da privatização) da Vale do Rio Doce, dos bancos estaduais e das telecomunicações? ¿ repetiu Lula em comícios no Nordeste, no fim da semana, numa espécie de ensaio em praça pública para a acareação com Alckmin.

Lula escolheu governo FH como o seu alvo principal

Lula determinou o tom desta etapa decisiva da campanha em sucessivas reuniões com aliados nas 96 horas seguintes à contagem dos votos do primeiro turno. Também, escolheu o alvo central para ataque ¿ e não é o adversário Alckmin ou a sua recém-encerrada gestão no governo paulista, mas a administração Fernando Henrique Cardoso que acabou há 45 meses, e sobre a qual os petistas preparam dossiês.

As primeiras salvas de artilharia foram lançadas durante a semana pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE), e a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy (PT). Do comitê central de Lula, em Brasília, foram despachadas instruções específicas aos comitês estaduais e municipais sobre a preparação da luta: ¿Precisamos lembrar que a oposição fará de tudo para nos derrotar e sujar nossa imagem¿, dizia um texto, ¿por isso, a campanha Lula precisa ser garantida por meio da mobilização e polarização¿. Na seqüência, emitiu-se outro com um apelo para ¿desmascarar de maneira clara e didática as mentiras que foram lançadas contra nós, especialmente nas últimas semanas¿.

Desde então, boatos proliferaram. Na defensiva, Alckmin e aliados passaram boa parte do final da semana desmentindo supostas demissões em massa de servidores públicos, privatização da Petrobras e bancos oficiais ou extinção do Bolsa Família.

Estimulado, o deputado Eduardo Valverde (PT-RO), da facção liderada pelo ex-ministro José Dirceu, foi ao plenário da CPI dos Sanguessugas:

¿ Tenho informações de que o dossiê (negociado por petistas por R$1,7 milhão) compromete inteiramente o José Serra. Mas hipocritamente a CPI não investiga isso.

¿ Não existe esse dossiê ¿ retrucou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos sub-relatores da CPI.

¿ A única prova que se tem até agora é o R$1,7 milhão em dinheiro com petistas que iam comprar o dossiê ¿ completou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Insatisfeito, Valverde foi à tribuna:

¿ Sabem o que há no dossiê? Não é só uma fita (gravação de solenidade de entrega de ambulâncias), mas movimentações bancárias que foram para a conta do tucanato de São Paulo.

Um aliado do governo Lula irritou-se:

¿ Meu partido acabou de definir apoio à reeleição de Lula. Então, vamos discutir com lisura a questão do dossiê, ou dossiês que foram formados ¿ disse Julio Delgado (PSB-MG), acrescentando: ¿ Pois foram os próprios deputados, infelizmente do PT de Minas Gerais, que montaram um dossiê que foi derrubado, o tal da ¿Lista de Furnas¿. O Instituto de Criminalística chegou a condenar aquilo.

Quem for eleito vai ter uma oposição radical

Segundo Delgado, os responsáveis pela divulgação do primeiro falso dossiê da atual campanha foram os petistas mineiros Rogério Correia, ex-deputado estadual, e Agostinho Valente, ex-deputado federal. Valverde, disse, deu-lhes respaldo no Congresso.

A virulência dos ataques preocupou até integrantes do núcleo da campanha de Lula.

¿ A vitória vai estar lastreada no que Lula fez pelo Brasil e na comparação com o governo Fernando Henrique ¿ moderou o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner. ¿ Quem tem interesse em campanha sangrenta são eles.

¿ Alckmin não participou nem pode ser responsabilizado pelo governo de Fernando Henrique ¿ retrucou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI). ¿ Lula não quer ter responsabilidade nem sobre os ladrões do governo dele e agora quer que Alckmin se responsabilize por atos de um governo de que não participou?

O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) complementou:

¿ O Lula não encontrou nada para bater em Alckmin. O segundo turno será o embate de um assaltante dos cofres públicos contra um homem limpo.

Os dois lados prevêem subir o tom na medida do desempenho dos candidatos nos debates, a partir deste domingo. O problema é a tendência à radicalização da oposição, depois da eleição. É o primeiro problema de quem for escolhido nas urnas no próximo dia 29.

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