Título: NO 2º TURNO, TRUNFOS E FRAGILIDADES DE CADA UM
Autor: Fellipe Awi
Fonte: O Globo, 08/10/2006, O País, p. 8

Especialistas: Lula tem Bolsa Família mas já não representa esperança. Alckmin lucra com `ficha limpa¿ e perde no carisma

Até 29 de outubro, o eleitor brasileiro vai carregar na cabeça uma balança imaginária. Todos os dias, levará a um dos dois pratos razões para votar ou não em Luiz Inácio Lula da Silva ou em Geraldo Alckmin. A pedido do GLOBO, especialistas em política, economia e marketing analisaram pontos fortes e fracos que os candidatos do PT e do PSDB carregam para uma campanha altamente polarizada como a do segundo turno.

De um lado e de outro, são trunfos e vulnerabilidades que vão pesar na hora do voto. Em seus quase quatro anos no Planalto, o presidente petista leva o bônus de políticas sociais nas regiões mais carentes do país, mas chega ao segundo turno desgastado com o escândalo do dossiê e em curva descendente de votos, segundo os institutos de pesquisa.

¿ Está claro que o Bolsa Família é o maior chamariz da candidatura do Lula, mas ele tem um forte calcanhar-de-aquiles, a crise ética que marcou seu governo. Já o Alckmin carece de carisma, mas possui, aparentemente, a ficha limpa ¿ diz a cientista política Maria Lúcia Werneck, da UFRJ.

A imagem ¿limpa¿ de Alckmin ganha definição curiosa na linguagem do publicitário Lula Vieira. Para ele, o tucano ¿é o genro que toda sogra quer¿. Este é seu ponto forte, mas que pode se virar contra ele caso o eleitor o veja apenas como um ¿candidato a cargo público¿.

¿ É encantador ver o Lula falando. Por outro lado, o presidente perdeu o seu maior trunfo nas últimas eleições: já não representa mais a idéia da esperança ¿ argumenta.

Seu colega Washington Olivetto, dono da Agência W/Brasil, entende que ¿a falta de carisma¿ de Alckmin atrapalha, mas tem também um lado positivo.

¿ Ele passa uma aura de sinceridade, de quem não está tentando vender nada. Mas o Lula tem linguagem bem mais acessível para o povão ¿ diz.

Para o cientista político David Flescher, da Universidade de Brasília, Lula chega com mais cacife que Alckmin na disputa por aliados no segundo turno. Em contrapartida, ressalta que o tucano vem em ritmo de crescimento.

¿ No fim do primeiro turno, Alckmin roubou muitos votos do Lula ¿ lembra Flescher, que alerta para um calcanhar-de-aquiles do tucano. ¿ Ele tem de falar mais a linguagem do povo. Para muita gente, o ¿choque de gestão¿ de que tanto fala não quer dizer nada.

O segundo turno terá também um duelo de números que porá frente a frente o governo petista e o de Fernando Henrique Cardoso. Autor de um estudo sobre a economia do país com 25 presidentes, o economista da UFRJ Reinaldo Gonçalves dá munição contra e a favor dos candidatos.

¿ Nos dois governos, o país cresceu menos que o mundo, mas cresceu um pouco mais com Lula. Mas a renda média real do trabalhador é hoje 10% menor que a do fim de 2002.