Título: FIM DA REELEIÇÃO PARA ATRAIR ALIADOS
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 08/10/2006, O País, p. 9

Apoios viriam de virtuais candidatos em 2010, como Serra e Aécio

De olho nas alianças que poderão conquistar para um mandato nos próximos quatro anos, Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva criticam a reeleição. O petista, que já está usufruindo do mecanismo, passou a defender o mandato de cinco anos. O tucano, que quer aglutinar forças no PSDB, diz que, se depender dele, vai acabar com a reeleição. Eles buscam apoios entre os virtuais candidatos à Presidência em 2010.

¿ Lula teria interesse de longo prazo no fim da reeleição, porque ainda poderia voltar à Presidência futuramente. Alckmin diz que topa porque precisa do apoio dos governadores tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, candidatos declarados para 2010 ¿ analisa o cientista político Marcelo Coutinho.

Independentemente de quem seja o novo presidente, o economista Marcelo Pochmann, da Unicamp, vê a possibilidade de o novo governo construir uma convergência como a que surgiu, na década de 80, contra a inflação. Agora é a vez do crescimento. Mas critica a pobreza do debate:

¿ A maneira como os programas vêm sendo apresentados dá a idéia de pasteurização. É preciso ficar pesquisando nas entrelinhas para descobrir quais são as metas e os compromissos. Mas há diferenças marcantes de conteúdo programático.

Nakano diz que país está sem rumo

O secretário adjunto de Política Econômica, Nelson Barbosa, diz que os últimos quatro anos foram difíceis, mas que o governo não abriu mão de crescer com distribuição de renda. Um segundo governo Lula seria marcado pela responsabilidade fiscal e melhoria da distribuição da renda por meio da manutenção dos aumentos reais do salário mínimo, do Bolsa Família e das transferências previdenciárias. O crédito também alavancaria o mercado interno.

¿ Se for reeleito, ou até antes, o presidente vai lançar o consignado habitacional. A idéia é fazer a prestação da casa própria caber no salário. O crédito é um instrumento muito democrático de distribuição e de alavancagem do mercado interno ¿ diz ele, frisando ser colaborador da campanha de Lula fora do expediente do Ministério.

Mas o professor da Escola de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Yoshiaki Nakano, critica a atual política econômica, que, segundo ele, coloca diferentes segmentos da sociedade em campos opostos:

¿ O financeiro apóia os juros altos, contrariando o produtivo e os trabalhadores. O governo impõe uma tributação absurdamente elevada contra a sociedade. A taxa de câmbio apreciada beneficia os consumidores de produtos importados em detrimento dos exportadores. A percepção de cada um dos segmentos é de que o país não tem rumo ¿ diz Nakano, coordenador econômico do programa de Alckmin junto com o economista José Roberto Mendonça de Barros.

Segundo Nakano, Alckmin tem um projeto de desenvolvimento em que a política econômica é desenhada no sentido de conciliar os interesses dos diferentes segmentos da sociedade e obter maior estabilidade financeira e crescimento mais acelerado:

¿ Há duas referências que o Brasil deve perseguir obsessivamente na área econômica: teto de inflação na média mundial, de 4%, e crescimento equiparado ao dos países emergentes, de 6,8% ¿ diz ele. (Mariza Louven)

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