Título: PROGRAMAS DEFRONTAM ESTADO E SETOR PRIVADO
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 08/10/2006, O País, p. 9

Candidatos do PT e do PSDB à Presidência da República buscam desenvolvimento com enfoques diferentes

Quem der uma olhada rápida nos programas econômicos dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) pode até achar que são parecidos. Entretanto, as diferenças são marcantes. A começar pelo rumo que cada um persegue. Ambos buscam o desenvolvimento, mas Lula o associa à distribuição de renda, e Alckmin, ao aumento da estabilidade. Eles também diferem na maneira como pretendem acelerar o crescimento. O petista planeja a ampliação do investimento, induzido pelo Estado, em parceria com o setor privado. O tucano aposta que ele será fruto do dinamismo do capitalismo brasileiro.

O candidato do PT quer estabelecer um sistema combinado de metas de inflação e de crescimento para atingir 5% de expansão média do Produto Interno Bruto (PIB) pela elevação da taxa de investimento de 21% para 25% do PIB. Já o do PSDB quer reforço da responsabilidade fiscal para chegar a uma taxa semelhante à média dos países emergentes, de 6,8% ao ano.

¿ Alckmin fará políticas mais liberais, em direção ao mercado, apostando no crescimento. Lula defende a recuperação do poder de financiamento e capacidade de coordenação do Estado. Parafraseando Caetano: de perto ninguém é igual ¿ diz o cientista político Marcelo Coutinho, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

A convergência dos programas está na manutenção das metas de superávit primário e de inflação, no câmbio flutuante, na queda dos juros e no Bolsa Família, que Lula quer ampliar e, Alckmin, aperfeiçoar. As diferenças principais estão em torno da regulação da economia e das reformas.

¿ Tanto o problema quanto a solução moram nos detalhes ¿ opina o professor da Universidade de Brasília David Fleisher.

Lula se compromete com a "mãe de todas as reformas", a política, e prevê a tributária, mas diz que não fará a da Previdência ou a trabalhista. Alckimin afirma que mandará a reforma política para o Congresso no primeiro mês de governo.

¿ A diferença está no grau de comando do Estado sobre a economia ¿ diz Ilan Goldfajn, que foi diretor do Banco Central na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.