Título: PSDB TERÁ DE EXPLICAR AS CPIS ENGAVETADAS¿
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 08/10/2006, O País, p. 14

Para Marco Aurélio Garcia, caixa dois ainda pode existir em todos os partidos

O caixa dois prejudicou o PT porque foi descoberto. Quando não é descoberta, a prática não prejudica. A conclusão é do coordenador da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição e novo presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia. Ele admite que a utilização de recursos não contabilizados pode continuar existindo no PT, como indica o R$1,7 milhão apreendido com petistas em São Paulo.

Depois de assumir a presidência do PT no lugar de Ricardo Berzoini, Garcia falou ao GLOBO por telefone.

O aparecimento de R$1,7 milhão indica que o caixa dois continua existindo no partido?MARCO AURÉLIO GARCIA: Pode indicar que está existindo em qualquer partido. Quando você vê campanhas de outros partidos, dificilmente vai compatibilizar volume com valores declarados. Isso tem que ser coibido conforme o Código Penal e prevenido com legislação que contemple financiamento público de campanhas.O que o PT pode fazer para coibir o caixa dois?GARCIA: No nosso partido atrapalha porque é descoberto. Nos outros não atrapalha, porque não é descoberto.O PT vai aceitar o apoio do ex-presidente Fernando Collor?GARCIA: Isso é problema do Collor. Não pedimos o apoio dele.Mas o PT vai aceitar este apoio?GARCIA: Não se trata de aceitar ou não. O diretório vai examinar. Você está querendo nos colocar em má companhia, parece ser sua intenção. Quem vai decidir se vamos aceitar não é você, somos nós. É problema nosso. Gostaria de lembrar: o PT teve papel fundamental na CPI e na votação do impeachment de Collor. Ele voltou à vida pública com base em prerrogativa legal. Não vi declaração dele a respeito de nos apoiar ou não. Quando ele declarar apoio formalmente, vamos tomar uma decisão.O PT vai levantar casos suspeitos de corrupção de Alckmin?GARCIA: Evidentemente. Posto que Alckmin se apresenta como guardião da moralidade, vai ter que explicar por que não usou os mesmos critérios na averiguação de irregularidades no governo dele, que desembocaram em mais de 60 pedidos de CPIs engavetados na Assembléia de São Paulo. Terá que explicar por que no governo do seu patrono Fernando Henrique Cardoso tantas CPIs foram arquivadas e o procurador-geral da República ficou conhecido como engavetador-geral da República. Temos conduta oposta na averiguação de denúncias. Por isso os problemas apareceram, porque foram investigados. O governo anunciou contingenciamento de R$1,6 bilhão do Orçamento. Depois de confirmado o segundo turno, liberou R$1,5 bilhão. O que o senhor tem a dizer sobre isso?GARCIA: Absolutamente nada. Houve percepção de que o contingenciamento era importante para cumprir determinadas metas, e mudanças na arrecadação permitiram liberar recursos. Nenhuma liberação tem atendimento clientelista.O senhor e outros petistas têm dito que, caso Alckmin seja eleito, as privatizações voltarão, haverá cortes em programas sociais. O PT está repetindo a tática do medo usada pelo PSDB em 2002?GARCIA: Não, são constatações que estamos tirando do que assessores dele têm dito em documentos do PSDB e do PFL. Eles têm um programa de retomada das privatizações. Não é tática do medo dizer que querem tocar a Alca em frente. Eles têm dito. Assessores econômicos do tucanato falam que os aumentos do mínimo são incompatíveis com equilíbrio fiscal. Eles têm que assumir concretamente o que querem.O afastamento de Berzoini e a expulsão dos envolvidos no dossiê não são extemporâneos?GARCIA: Não. Preferiria que o debate não ocorresse, mas veio à tona. O debate foi com alto nível e tivemos uma solução que teve o mérito de ser discutido. Foi resultado de uma ação responsável e generosa do Berzoini, que uma vez mais se qualificou como grande político.Ele deve voltar à presidência do PT?GARCIA: Acho que sim. Ele se deu condição de voltar assim que os problemas estejam esclarecidos. O PT, ao contrário de outros partidos, não quer jogar para debaixo do tapete problemas internos. Os problemas que o Berzoini teve são claros, públicos, não há nenhuma implicação dele neste caso do dossiê. Simplesmente o caso foi feito à sua revelia mas sob a sua gestão.