Título: No cenario do acidente, as marcas da tragédia
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 09/10/2006, O País, p. 11

Equipe do GLOBO sobrevoa o local da queda e avista roupas, metal e até poltronas nos galhos das árvores

FAZENDA JARINÃ (MT). O trecho do limite Oeste do Parque Nacional do Xingu, local da queda do Boeing 737-800 da Gol, no Mato Grosso, transformou-se num imenso varal dos horrores. Do alto, é possível avistar roupas rasgadas, fragmentos da fuselagem e até mesmo algumas poltronas do avião penduradas nos galhos das árvores, a 40 metros de altura.

Uma equipe de repórteres do GLOBO pôde constatar a dramaticidade do cenário a partir de um sobrevôo da área a bordo de um helicóptero Puma da FAB, que está no comando da operação de resgate dos corpos das 154 vítimas do maior desastre aéreo do país. Foi a primeira vez que a FAB permitiu que uma equipe de repórteres sobrevoasse a área. O helicóptero partiu da base da Fazenda Jarinã por volta das 14h de ontem. Quinze minutos depois da partida, já era possível perceber as cores da tragédia. Da imensidão verde da floresta, surgiram os primeiros pontos em cor de abóbora e branco, marcas da fuselagem da aeronave da Gol.

`Uma chuva de ferragens e de gente¿

Mais adiante, farrapos de uma calça jeans tremulavam de um galho ressequido. Não muito distante dali, uma poltrona enganchada numa copa de árvore. Nove dias depois da tragédia, parece que o acidente ocorreu na véspera.

¿ Foi como se tivesse havido uma chuva de ferragens e gente ¿ disse o major Átila Wanderley, do Corpo de Bombeiros da cidade de Sinop, que está ajudando no resgate dos corpos.

O helicóptero Puma também sobrevoou as clareiras onde foram encontradas partes da cabine, do trem de pouso e da cauda do Boeing. As peças estão espalhadas por uma área de aproximadamente 700 metros quadrados.

Para alguns observadores locais, isso significa que o avião se dividiu em pelo menos três grandes partes antes de se espatifar no chão. Essa hipótese derrubaria as teses de que o avião caiu de bico ou de que o Boeing desintegrou-se no ar. Também a partir desse raciocínio, alguns militares acreditam que passageiros tenham sido lançados no espaço antes da queda do avião. Até o fim da tarde de ontem, a FAB contabilizava a localização de 129 vítimas. Ou seja: faltam ainda ser encontrados 35 corpos.