Título: TENSÃO NUCLEAR ENTRE AS CORÉIAS
Autor:
Fonte: O Globo, 09/10/2006, O Mundo, p. 23
Regime de Pyongyang eleva tom de ameaças a Seul em meio a expectativa de teste com bomba atômica
SEUL
Num dos dias mais tensos no leste da Ásia nos últimos anos, a Coréia do Norte ameaçou a Coréia do Sul de um ataque ¿de conseqüências catastróficas¿ caso houvesse alguma nova escaramuça na fronteira entre os países, como ocorreu no sábado. A ameaça foi feita num dia em que a comunidade internacional acreditava ser a data escolhida para um polêmico teste nuclear norte-coreano, que acabou não acontecendo.
No sábado, militares sul-coreanos fizeram dezenas de disparos na zona desmilitarizada (ZD), uma faixa de quatro quilômetros de largura que separa os dois países desde o fim da Guerra da Coréia (1950-1953). Segundo a versão sul-coreana, cinco soldados da Coréia do Norte avançaram pela ZD armados e sem aviso, o que é proibido pela trégua entre os dois países (até hoje não houve um tratado de paz formal, e os dois países ainda estão em estado de guerra). Ainda segundo Seul, militares sul-coreanos fizeram 40 ¿tiros de advertência¿, depois de avisos por alto-falantes. Ninguém ficou ferido.
Segundo Pyongyang, porém, a ação sul-coreana foi uma provocação.
¿Este foi um desafio não-disfarçado contra nós e uma provocação militarmente indesculpável¿, afirmou a agência oficial norte-coreana KCNA. ¿Foi somente a grande paciência e o autocontrole de nossos soldados que impediram que o incidente não tivesse se ampliado tornando-se um confronto armado entre os dois lados.¿
De acordo com a KCNA, os cinco soldados norte-coreanos estavam realizando atividades militares normais no seu lado da fronteira quando foram alvo de 60 tiros de metralhadora. ¿As autoridades militares do Sul não devem agir desta forma insana, mas considerar cuidadosamente quais seriam as conseqüências catastróficas de atos provocativos na linha do front.¿
Para Japão e China, teste é inaceitável
O incidente poderia ser apenas mais um no longo histórico de conflitos na zona desmilitarizada. Porém, ocorreu num fim de semana em que agências de espionagem de diversos países, asiáticos e ocidentais, acreditavam ser muito possível a realização de um teste nuclear na Coréia do Norte. A data mais provável era ontem, dia em que o líder do país, Kim Jong-il, fez aniversário. O país é conhecido por fazer demonstrações de força neste dia, pois a propaganda estatal norte-coreana faz um grande culto à personalidade de seu presidente.
Mas o jornal oficial ¿Rodong Sinmun¿ não fez menção a um teste de uma bomba nuclear em sua edição de ontem, afirmando apenas que ¿o mundo admira o poder absoluto e a grandeza de nosso querido líder.¿
O teste ainda poderia ser realizado esta semana, com o dia de hoje sendo um dos que geram maior expectativa pelo fato de ser o Dia do Trabalho na Coréia do Norte.
Porém, analistas acreditam que uma jogada diplomática do novo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, pode ter contido Pyongyang. O premier japonês visitou Pequim ontem, reunindo-se inclusive com o presidente da China, Hu Jintao.
¿ O Japão e a China compartilham a visão de que um teste nuclear norte-coreano é inaceitável. E esta é uma mensagem forte para a Coréia do Norte ¿ disse Abe depois do encontro com Hu.
A China é o mais próximo que a Coréia do Norte tem de um aliado. Semana passada Pequim aceitou uma recomendação do Conselho de Segurança que considerava inadmissível o teste de uma arma atômica por Pyongyang.
Segundo disseram fontes chinesas a especialistas sul-coreanos, o governo da Coréia do Norte poderia ter sentido a pressão da China. Alguns dizem que Pyongyang exige, no entanto, uma reunião bilateral com os Estados Unidos para negociar o assunto nuclear. Washington até ontem mantinha a linha de que negociações com a Coréia do Norte só dentro do Sexteto, grupo formado pelos dois países e China, Rússia, Japão e Coréia do Sul.