Título: PILOTOS: PLANO PREVIA ALTITUDE DE 37 MIL PÉS
Autor: Antonio Werneck e Ruben Berta
Fonte: O Globo, 09/10/2006, O País, p. 10

Depoimento de americanos, divulgado no `Fantástico`, no entanto, é contestado pela Polícia Civil de Mato Grosso

O americano Joseph Lepore, piloto do Legacy, em depoimento à Polícia Civil de Mato Grosso, obtido pelo ¿Fantástico¿ da TV Globo, afirmou que o plano de vôo do jato foi elaborado pela Embraer e previa 37 mil pés até Manaus. Foi nessa altitude que o Legacy se chocou com o Boeing 737- 800 da Gol que seguia em sentido contrário. O choque em pleno ar causou a morte de 154 pessoas. Os delegados do caso, porém, informaram ontem à TV Record que o plano de vôo autorizado era de 37 mil pés de São José dos Campos a Brasília, onde o avião teria que descer para 36 mil pés, passando a 38 mil no trecho entre Teres (a 480 km de Brasília) e Manaus.

O depoimento de Joseph foi reforçado pelo co-piloto do Legacy, Jan Paul Paladino, que também prestou depoimento à Polícia Civil. Em entrevista ao ¿Fantástico¿, o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse que é ¿praticamente impossível que o plano de vôo estivesse errado¿, mas afirmou que o dado precisa ser investigado.

Co-piloto disse que possui cópia do plano de vôo

O co-piloto Jan Paul disse que o plano de vôo elaborado pela Embraer previa a altitude de 37 mil pés durante o trecho em que a aeronave colidiu com o Boeing da Gol. Ele disse à polícia que a partir de Brasília foi usada uma aerovia com destino a Manaus e que junto ao plano de vôo estava descrita trafegabilidade na altitude de 37 mil pés, ¿liberado pela torre de controle¿. No mesmo depoimento, afirma que ¿houve a confecção de um plano de vôo pela Embraer¿ e que ele tem ¿uma cópia deste plano, além do original arquivado na Torre de Controle de São José dos Campos¿.

O piloto admitiu que, apesar de ter mais de 20 horas de vôo em simulador de vôo, bem como aproximadamente cinco horas de vôo em aeronave Legacy 600, ¿era a primeira vez que pilotava um avião desse tipo¿. Joseph lembrou, no entanto, que testou o avião durante dois dias ¿ 27 e 28 de setembro ¿ na Embraer, em São José dos Campos.

No depoimento de seis laudas aos policiais da Gerência de Repressão a Seqüestro e Investigações Especiais de Cuiabá, o piloto esclareceu que ¿no plano de vôo foi estabelecido o nível de 37 mil pés, nível de cruzeiro¿. Ele também afirmou que logo que decolou recebeu ¿restrições de altitude vindo a subir paulatinamente, consoante autorização, até alcançar o nível estabelecido no plano de vôo¿. O depoimento do piloto e de todos os tripulantes foi acompanhado pelo vice-cônsul dos Estados Unidos, Mark Pannell; pelo advogado Antônio Carlos Gonçalves representando a Embraer; e um intérprete.

Tanto Joseph quanto Jan Paul disseram que não houve alerta de colisão. O co-piloto afirmou, no entanto, que durante o vôo o Transponder, equipamento que aciona o sistema, ¿parecia estar funcionando¿. Segundo ele, havia duas indicações de que o aparelho não tinha problemas: a luz que fica piscando no painel estaria funcionando normalmente e o Transponder estaria emitindo sinais para o radar de solo, que, por sua vez, respondia.

Já no depoimento do piloto, ele afirmou que, embora o Legacy possuísse equipamento anticolisão, ele não estava funcionando: ¿A aeronave possui equipamento anticolisão, o qual, quando acionado, emite sinal sonoro e luminoso, todavia, no evento em baila, o referido equipamento não veio a funcionar¿.

Jan Paul sugere ainda que a torre de controle poderia ter ajudado a detectar alguma falha no aparelho: ¿Caso (o Transponder) não esteja funcionando e sua luz estiver piscando, o centro de controle entra em contato com a aeronave esclarecendo que ela não está emitindo nenhum sinal pelo aparelho¿.

Embraer: sistema testado antes e depois do vôo

Henry Yandle, gerente de vendas da Embraer e que estava no avião, reforçou a tese de que o sistema que poderia ter evitado o impacto estava funcionando: ¿A aeronave possui um sistema anticolisão, que foi testado antes e após o vôo, já na Base Aérea de Cachimbo, tendo sido constatado perfeito funcionamento¿, afirmou.

Piloto e co-piloto mostram depoimentos contraditórios quando falam do momento da colisão. Segundo Joseph, ele havia acabado de entrar na cabine de controle após voltar do toalete, quando ouviu um barulho de batida de carro, ¿sem nenhum impacto¿. Nesse momento assumiu o controle do avião, que estava no piloto automático. Jan Paul disse que no momento da colisão sentiu ¿um impacto na aeronave e de uma visão periférica percebeu um tremor, uma onda de choque na aeronave e acreditou que a porta tivesse saído¿.

A Aeronáutica também informou que o Transponder não estava funcionando e que tentou contato de rádio sete vezes, sem receber resposta. O último chamado foi transmitido às cegas (quando o controlador delega o vôo ao piloto), numa tentativa dos controladores de Brasília de transmitir a nova freqüência de rádio para os dois pilotos.