Título: EU EXTERNEI A INDIGNAÇÃO DO POVO BRASILEIRO¿
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 10/10/2006, O País, p. 3
Sem esconder a satisfação com sua performance no debate na TV Bandeirantes, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem não considerar que tivesse adotado um tom agressivo contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário no segundo turno. Na porta do comitê, onde deu rápida entrevista depois de receber presidentes de partidos aliados, o tucano disse que até dormiu bem e com a consciência tranqüila depois do debate.
¿ Acho que externei o sentimento de indignação do povo brasileiro. Isso estava parado na garganta de todo mundo. Fui um instrumento do povo. Não com raiva, mas com indignação ¿ disse Geraldo Alckmin. E acrescentou:
¿ O tom não foi agressivo. Estou absolutamente zen. Dormi tranqüilo, estou com a consciência tranqüila ¿ disse ele, afirmando que seu comportamento foi a tradução ¿da indignação do povo¿.
À noite, depois de quase três horas gravando programas para o horário eleitoral gratuito, Alckmin rebateu declarações do presidente Lula, que o comparou a ¿um delegado de porta de cadeia¿.
¿ Essa declaração mostra desespero. O Brasil merece seriedade nos atos e nas palavras ¿ disse ele.
Alckmin diz que quis debater ¿a mentirada¿
Ainda sobre o seu desempenho, na porta do comitê, à tarde, o candidato tucano disse que fez questão de debater com Lula ¿toda a mentirada¿ que tem sido lançada contra sua candidatura nas últimas semanas.
¿ Lula não pode achar que é normal essa mentirada toda que ele fala pelas costas. Eu falo a verdade, e frente a frente ¿ disse ele, referindo-se às recentes declarações de dirigentes petistas de que, se eleito, Alckmin privatizaria bancos, acabaria com o Bolsa Família e perseguiria funcionários públicos.
Embora tenha pautado boa parte do debate por temas que levavam à discussão sobre ética e corrupção, o candidato tucano disse ontem que a questão central dos debates para o segundo turno deve ser em torno de um projeto de desenvolvimento para o país, com base na geração de emprego, renda e trabalho.
No entanto, Alckmin retomou logo em seguida as críticas à forma como o presidente Lula reagiu no debate. Quanto à estratégia do petista de comparar o seu governo com o de Fernando Henrique Cardoso, Alckmin disse que Lula está ¿de olho no passado¿.
Conversas sobre disputa no Rio e no Maranhão
Depois de ter citado, no debate, o ex-ministro José Dirceu como ¿chefe da quadrilha¿ do mensalão, o candidato do PSDB não quis comentar sobre a declaração do petista de que pretende processá-lo por calúnia:
¿ Não vou comentar.
No rápido encontro com o candidato do PSDB, os presidentes nacionais do PFL, Jorge Bornhausen, e do PPS, Roberto Freire, além do tucano Tasso Jereissati, discutiu-se a situação das alianças nos estados durante as eleições no segundo turno. Em pouco mais de uma hora, falaram sobre a situação, principalmente, do Maranhão e do Rio de Janeiro, onde o apoio do ex-governador Anthony Garotinho rachou o PMDB e irritou o PFL no estado.
¿ Conversamos basicamente sobre como incrementar a campanha nos estados ¿
disse Bornhausen.
Freire informou que a situação no Rio de Janeiro também foi pauta do encontro.
¿ No Rio, vamos tentar unificar as duas campanhas ¿ disse Freire, referindo-se à necessidade de um estreitamento da campanha de Alckmin e a da candidata do PPS ao governo do Rio, Denise Frossard.
Freire e Bornhausen falaram sobre o debate da TV Bandeirantes no domingo.
¿ Lula omitiu, mentiu e, por isso, perdeu o debate ¿ considerou o pefelista.
Bornhausen ironizou as declarações de que Alckmin havia ingerido algo que o tornou mais ofensivo:
¿ Se tem alguém que bebe, não é o nosso candidato.
Para Freire, Alckmin teve de recorrer às questões sobre corrupção no governo por causa da ausência de Lula nos debates no primeiro turno:
¿ Geraldo não tinha tido a oportunidade de falar o que deveria falar para o presidente Lula e, por isso, teve de ser duro para mostrar com clareza os problemas deste governo.
Tasso Jereissati não conversou com jornalistas. O presidente do PSDB seguiu logo cedo para o Ceará para articular um encontro naquele estado com advogados simpatizantes à candidatura de Alckmin.