Título: ESPECIALISTAS: UM NÃO TIROU VOTOS DO OUTRO
Autor: Cláudia Lamego
Fonte: O Globo, 10/10/2006, O País, p. 8

Para estudiosos, Alckmin foi melhor no debate com Lula, mas deveria ter apresentado propostas para o eleitor

Um picolé de chuchu com pimenta, mas ainda sem sustância. É consenso entre analistas consultados pelo GLOBO que o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), conseguiu acuar o adversário no canto do ringue e teve um desempenho melhor do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate da TV Bandeirantes, anteontem. Entretanto, a insistência dele em abordar o tema da corrupção impediu o aprofundamento das propostas e pode ter frustrado as expectativas dos eleitores que esperavam propostas concretas sobre como melhorar o país.

A avaliação é de que um não tirou eleitores do outro. Provavelmente, eles apenas consolidaram a intenção de quem já havia decidido o voto. Mas o professor de comunicação da USP Gaudêncio Torquato acha que Alckmin pode ter conquistado votos de indecisos.

¿ Alckmin, diferentemente do que se esperava de um picolé de chuchu, foi bem apimentado ¿ disse ele.

Para Torquato, o tucano pôs Lula no canto do ringue porque, além de incisivo, estava bem preparado, com um discurso afiado e falando para o eleitor. Para ele, Lula pareceu assustado com a agressividade de Alckmin. Mas a cobrança em relação aos escândalos de corrupção impediu que temas de interesse do eleitor, como segurança, educação e saúde, fossem aprofundados. Torquato criticou a ¿paulistização¿ do debate, que girou principalmente em torno de temas sobre São Paulo.

Vitória, mas sem goleada ou nocaute, acha Coimbra

O cientista político Marcos Coimbra, do Vox Populi, acha que Alckmin foi melhor, mas diz que não foi uma vitória de goleada nem por nocaute.

¿ Alckmin estabeleceu o tom do debate logo na primeira fala. Depois, ele e Lula se equilibraram. Não entendi a surpresa do petista com a agressividade do tucano. O time que está perdendo, com o jogo no fim, põe três atacantes na frente. Não acho que o debate mude o cenário eleitoral. A não ser que surja um fato excepcional, a margem de mudança é pequena.

Coimbra criticou Lula por tentar, insistentemente, comparar seu governo ao de Fernando Henrique.

¿ Essa estratégia é ótima para o horário eleitoral porque há tempo de elaborar melhor os argumentos. No debate não é bom porque fica evidente que quem está do outro lado é o Alckmin, não o Fernando Henrique.

O cientista político Murilo Aragão, da Arko Consultoria, também tem dúvidas se o desempenho de Alckmin vai resultar em mais votos:

¿ Lula deu a impressão de um lutador que já foi bom, mas que perdeu a embocadura ¿ disse Aragão, que assistiu ao debate no estúdio da TV Bandeirantes e viu quando Lula chegou com uma comitiva ministerial:

¿ Parecia o time do Barcelona chegando. Mas quando o debate começou, Alckmin partiu para cima dele e o desestabilizou no primeiro bloco. No segundo e no terceiro, Lula se recuperou e houve empate. No último, Alckmin voltou a pontificar ¿ opina ele, lembrando que Lula é bom em lidar com as massas e Alckmin, em debates. ¿ Alckmin também se saiu bem no debate com Genoino, em 2002, quando disputavam o governo de São Paulo.

Para Simas, Lula estava fora de forma e destreinado

O tucano foi o melhor para o cientista político Marcelo Simas, da FGV. Para ele, Lula usou expressões infelizes e transmitiu uma idéia de arrogância ao se dirigir a Alckmin como ¿o governador¿ ou ¿excelência¿ e dizer: ¿deveria me agradecer por...¿.

¿ Lula pareceu estar destreinado. No governo, ficou em situação muito protegida e, quando teve que ir a campo, estava fora de forma ¿ disse Simas, citando que Alckmin foi feliz ao desenvolver imagens como a do ¿presidente virtual¿ ou ¿presidente comentarista.

Para o cientista político da Unicamp Roberto Romano, Alckmin não teve medo de enfrentar o presidente. Romano, que também assistiu ao debate no estúdio da TV, achou Lula mal assessorado.

¿ O presidente, ao contrário de Alckmin, se mostrou nervoso, não se dirigia nunca ao espectador. O tucano atacou o tempo todo, não se deixando intimidar pelo chefe de estado. Ele chamava Lula pelo nome e de candidato.

O publicitário Lula Vieira acha que Alckmin poderia ter apresentado propostas, mas teve o mérito de irritar o presidente, que teve reações típicas de ¿palanquinho em sindicato no interior¿. Para ele, Lula deveria ter centrado o debate em suas ações de governo. Ele aconselha Lula a não entrar tanto na briga e não ler durante o debate. Para Alckmin, outra dica:

¿ Ele poderia tentar consolidar a imagem de conhecedor do Brasil, mas quis lutar contra a imagem do picolé de chuchu, colocou pimenta, mas ainda não mostrou sustância.