Título: EM BREVE, TV GOOGLE?
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Fonte: O Globo, 10/10/2006, Economia, p. 25
Líder de busca na internet compra site de vídeos YouTube por US$1,65 bi em ações
SÃO FRANCISCO e NOVA YORK
Afebre dos vídeos online contaminou a Google Inc.: a líder de buscas na internet fechou ontem a compra do site YouTube por US$1,65 bilhão (cerca de R$3,6 bilhões) em ações. Com esse acordo, o YouTube é o primeiro site de conteúdo gerado por usuários ¿ a mais forte tendência da Web ¿ a passar a marca do US$1 bilhão. O site de relacionamentos MySpace, por exemplo, foi comprado ano passado pela News Corp. por US$580 milhões. A operação também vai unir as duas marcas mais conhecidas da internet hoje. Juntas, elas tiveram 101 milhões de visitantes nos EUA em agosto, segundo dados da consultoria Nielsen/NetRatings. No mesmo período, o Yahoo teve 106,7 milhões e o MSN, da Microsoft, 98,5 milhões.
¿ Esse é o atalho para que o Google se transforme na TV Google ¿ disse à agência Bloomberg News Allen Weiner, analista da consultoria Gartner Inc. ¿ O YouTube é como uma imensa plataforma de TV que inclui um conteúdo significativo.
Os rumores sobre a operação surgiram sexta-feira, com uma reportagem do ¿Wall Street Journal¿, o que fez as ações da Google subirem 2%. Ontem, com a expectativa do acordo ¿ anunciado após o fechamento das bolsas ¿ os papéis voltaram a subir 2%, para US$429. Nos dois últimos pregões, o valor de mercado da Google subiu quase US$4 bilhões. O valor da operação fez do YouTube ¿ que ainda não é lucrativo ¿ a mais cara aquisição da Google. Em 2005, a empresa gastou US$130,5 milhões na compra de 15 pequenas firmas de internet.
Apesar de alguns céticos questionarem se o YouTube veio ou não para ficar, a Google aposta que o site de troca de vídeos vai se tornar um lucrativo nicho de mercado, com telespectadores e anunciantes migrando da TV para a internet.
¿ Este é o próximo passo na evolução da rede ¿ disse ontem o diretor-executivo da Google, Eric Schmidt. ¿ É só o começo da revolução do vídeo na internet.
O YouTube vai manter sua marca, sua sede na cidade de San Bruno e seus 67 funcionários, incluindo os criadores Chad Hurley e Steve Chen (havia um terceiro, Jawed Karim, que abandonou o negócio). Até a conclusão da operação, o que deve acontecer ainda este ano, a Google vai manter seu não muito popular Google Video.
¿ Estou confiante de que, com essa parceria, teremos a flexibilidade e os recursos de que precisamos para atingirmos nosso objetivo de construir a próxima geração de uma plataforma para a distribuição global de mídia ¿ disse Chad Hurley, de 29 anos, diretor-executivo do YouTube.
Schmidt disse à CNN que esse será um dos ¿muitos investimentos¿ da Google em vídeos online. Ele também comparou Hurley e Chen (de 27 anos) aos criadores do Google, Sergey Brin e Larry Page, hoje com 33 anos e entre os homens mais ricos do mundo ¿ opinião compartilhada por Brin:
¿ O site me lembra o Google de alguns anos atrás.
As duas empresas ainda compartilham um laço financeiro: a Sequoia Capital, um dos primeiros investidores da Google, que hoje tem cerca de 30% do YouTube. Além de ações, a Sequoia tem uma cadeira no Conselho de Administração da Google, o que provavelmente facilitou o acordo, negociado em uma semana.
Microsoft e Yahoo mostraram interesse
Ainda se discute se o YouTube vai conseguir atrair o interesse dos anunciantes. Mas, para Bill Tancer, diretor-geral da consultoria HitWise, as grandes corporações não terão outra opção senão permitir o uso de suas marcas em vídeos caseiros ¿ e tentar lucrar com isso.
¿ Não sei se os anunciantes terão escolha. Eles terão de se arriscar. Cada vez mais pessoas vão usar marcas famosas em seus vídeos amadores ¿ disse Tancer à CNN.
Era com essa expectativa que várias empresas de internet estavam se aproximando do YouTube, como Microsoft, Yahoo e News Corp., segundo fontes do mercado. A operação anunciada ontem também vai aumentar a pressão sobre o Yahoo para comprar o site de relacionamentos Facebook, que só perde em popularidade para o MySpace.
Mas há quem tema que o YouTube tenha destino semelhante ao do Napster, site de troca de músicas que sucumbiu a uma avalanche de processos por violação de direitos autorais. Apesar de a maioria dos vídeos do YouTube ser de amadores, muitas pessoas colocam no site trechos de programas de TV, o que dá margem a ações judiciais.
Hurley e Chen vêm conversando com empresas de mídia, a fim de convencê-las de que o YouTube pode significar lucro. Tanto que ontem mesmo o site anunciou parcerias com Universal, CBS e Sony BMG. Mês passado, fechara acordo com a Warner. Também ontem, a Google divulgou acordos de distribuição de conteúdo com as gravadoras Sony BMG e Warner Music Group.