Título: AIRBUS SUBSTITUI LÍDER APÓS RENÚNCIA DE EXECUTIVO, EM MEIO À CRISE NA EMPRESA
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Fonte: O Globo, 10/10/2006, Economia, p. 26

Christian Streiff diz que não obteve autonomia para implantar reformas

PARIS. O principal executivo (CEO, da sigla em inglês) da Airbus, Christian Streiff, formalizou ontem sua renúncia. A empresa aeroespacial européia EADS, matriz da Airbus, anunciou que Streiff será substituído por Louis Gallois, que já ocupava o cargo de co-CEO na diretoria da empresa.

A saída de Streiff provocou uma crise na Airbus e na própria EADS, evidenciando a disputa entre franceses e alemães pelo controle das duas companhias. Streiff assumiu o comando da Airbus há três meses, substituindo Gustav Humbert, demitido com Noel Forgeard, executivo da EADS, por causa da crise de produção do superjumbo A380.

Em junho, o fabricante de aviões pegou o mercado de surpresa ao anunciar que o prazo de produção do superjumbo A380 iria atrasar em um ano. Neste mês, novamente, a empresa anunciou que o novo avião vai demorar dois anos para ficar pronto. Com isso, a EADS perderia US$6,1 bilhões de seus lucros ao longo de quatro anos.

Em novo golpe para a companhia, a Airbus anunciou que vendeu apenas quatro aviões em setembro, elevando o número total de pedidos neste ano para 226. Foi o menor número registrado em qualquer mês de 2005 e 2006. Nomeado em julho para resolver os atrasos industriais do A380, Streiff atraiu críticas políticas, especialmente na Alemanha, sobre seu plano de uma reforma radical nas fábricas.

Na semana passada, Streiff apoiou suas propostas de economizar dois bilhões de euros (US$2,52 bilhões) em custos anuais com ameaça de renunciar, se não tivesse carta branca, afirmou uma fonte próxima da empresa.

Já o primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, defendeu Streiff em entrevista televisionada no domingo, afirmando que ele estava fazendo um trabalho formidável e que não havia razão para que o executivo renunciasse.

Analistas políticos afirmaram que o segundo conflito de direção dentro da maior companhia aeroespacial européia em três meses reavivou as tensões franco-alemãs antes da reunião entre Villepin e a chanceler alemã, Angela Merkel, depois de amanhã.

¿ A reunião franco-alemã será decisiva ¿ disse uma fonte do setor próxima à EADS.

Temor por demissões provocou tensão

Numa entrevista ao diário francês ¿Le Figaro¿ que chega às bancas hoje, Streiff disse que não obteve o controle operacional necessário para implantar as reformas para tornar a Airbus mais eficiente. Entre as medidas, o rigoroso plano de corte de custos levantou temores de demissões, sobretudo em uma unidade da companhia na Alemanha, cuja tecnologia é incompatível com o novo modelo adotado por Streiff. Este foi o principal motivo do anúncio do novo atraso na produção.