Título: REGIME FECHADO ESCONDE PODERIO MILITAR E POPULAÇÃO POBRE
Autor:
Fonte: O Globo, 10/10/2006, O Mundo, p. 32
País tem 1,2 milhão de soldados e investe 80% do orçamento nas Forças Armadas
PYONGYANG. Antes mesmo da detonação de sua primeira bomba nuclear, a Coréia do Norte já era um dos regimes mais fechados no mundo. Surgido com a divisão da Península Coreana após a Segunda Guerra e formalmente criado após a Guerra da Coréia (1950-1953), o país tem o quinto maior Exército do mundo, mas é um dos que mais recebem doações de comida para sua população paupérrima.
De seus 23 milhões de habitantes, 1,2 milhão são militares e 13% do PIB e 80% do orçamento do Estado são usados nas Forças Armadas. Organizações humanitárias dizem que o país é um dos piores do planeta em relação aos direitos humanos, com centenas de milhares de presos políticos, campos de concentração e ausência de liberdades individuais.
Durante 46 anos, o país foi governado pelo presidente Kim Il-sung, que instituiu um regime de culto à personalidade, sendo chamado de Grande Líder pelos órgãos oficiais. Já na década de 1950 se distanciou da União Soviética depois que ela rechaçou o stalinismo, aproximando-se da China. A Constituição foi alterada e o país não se considera comunista, mas praticante do juche, uma ideologia político-religiosa. Especialistas afirmam que o juche une elementos do stalinismo e do maoísmo a princípios confucionistas.
Durante as décadas de 1960 e 1970, o país investiu pesadamente em indústria de base. A luta ideológica fez com que se erigissem milhares de edifícios de apartamentos, muitos com mais de 20 andares, para a população morar, para mostrar ao mundo a grandiosidade do regime.
Porém, com o desmantelamento da União Soviética e diversos desastres naturais, a década de 1990 foi marcada uma uma onda de fome que matou entre 600 mil e 3,5 milhões de pessoas. Grande parte da população passou a sobreviver apenas de comida doada por outros países. Ano passado, o país foi o segundo maior destino de comida doada no mundo.
Em 1994, Kim Il-sung morreu. Em seu lugar assumiu seu filho, Kim Jong-il, na primeira sucessão dinástica em um país comunista. Kim Jong-il é secretário-geral do Partido dos Trabalhadores da Coréia e comandante supremo do Exército, mas não presidente. Em muitos comunicados oficiais é chamado apenas de Querido Líder.
Kim Jong-il iniciou negociações e selou um acordo com os EUA, em 2000, comprometendo-se a deter o programa nuclear em troca de ajuda ¿ naquele momento o país passava por outra onda de fome. Nos últimos anos, no entanto, o regime se isolou mais, saindo do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e fazendo testes de mísseis. Kim Jong-il só teve a voz ouvida em público uma vez, em 1992. Em sua biografia oficial está escrito que no dia do seu nascimento um arco-íris se formou sobre o sagrado Monte Paektu e uma nova estrela surgiu. Cinéfilo, ele chegou a seqüestrar o diretor sul-coreano Shin Sang-ok para filmar no país. Entre seus filmes favoritos está a série ¿Sexta-Feira 13¿.