Título: EXPLOSÃO PODE TER TIDO POTÊNCIA DE 15 QUILOTONS
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Fonte: O Globo, 10/10/2006, O Mundo, p. 32
Teste norte-coreano provocou `terremoto artificial¿ de cerca de 4 graus. País teria material para seis a oito bombas
SEUL. Um tremor registrado por sismógrafos na manhã de ontem (noite de domingo no Brasil) foi a confirmação de que os norte-coreanos haviam realizado seu primeiro teste nuclear subterrâneo. Mas ainda serão necessários vários dias para determinar a potência da carga utilizada, que segundo diferentes fontes pode ter sido o equivalente a uma explosão de 500 toneladas a 15 mil toneladas de TNT ¿ neste caso, o suficiente para arrasar uma cidade como ocorreu com Hiroshima, em 1945.
Segundo a Coréia do Sul, o teste foi realizado em Hwaderi, perto de Kilju, às 10h36m de ontem (22h36m de domingo, hora de Brasília). Os serviços de inteligência observaram um ¿terremoto artificial¿ de 3,58 graus, sentido a partir da província de Hamgyeong, norte do país vizinho. Já o Serviço Geológico dos Estados Unidos calculou o tremor em 4,2 graus.
¿ Registramos menos de 4 graus na escala Richter. Poderia ser o resultado de várias toneladas de TNT em vez de um teste nuclear ¿ disse uma fonte do governo americano, segundo a qual ainda serão necessários vários dias para determinar se o tremor seria o resultado de um teste nuclear fracassado, uma pequena bomba atômica ou uma explosão comum.
Artefato seria grande demais para caber em míssil
Segundo algumas fontes, poderia ter sido utilizada uma bomba de nêutrons. Mas as avaliações variam. Fontes na Defesa sul-coreana disseram que o tremor teria sido causado por uma explosão de meio quiloton. Já Gary Gibson, do Centro de Pesquisa Sismológica da Austrália, calculou a força da explosão em um quiloton, o equivalente a mil toneladas de TNT.
Os russos foram além. O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Ivanov, disse acreditar que a explosão tenha variado entre um e 15 quilotons, de acordo com as leituras feitas por instrumentos do país. Para se ter uma idéia, a bomba americana lançada sobre Hiroshima, em 1945, tinha 12,5 quilotons.
¿ Dispomos de informação exata sobre o lugar onde o teste foi feito ¿ contou o ministro.
Especialistas acreditam que novos testes podem ser realizados e que a Coréia do Norte possa ter material suficiente para fabricar de seis a oito bombas. No entanto, o país não disporia ainda de tecnologia para desenvolver uma bomba pequena o suficiente para caber num míssil ¿ o que significa que Pyongyang ainda levaria anos para representar uma ameaça real.
¿ Poderiam produzir a bomba, colocá-la num avião e jogá-la ¿ disse Gordon Chang, autor de um livro sobre o programa nuclear norte-coreano. ¿ A questão é se podem reduzi-la para caber num míssil. Creio que não.
Já Duncan Lennox, editor de armas estratégicas da revista ¿Jane¿s¿, pensa diferente:
¿ Eles teriam que reduzir (a bomba) para 500 a 700 quilos, o que acredito ser possível com a tecnologia disponível hoje ¿ disse Lennox.
Programa teve início com ajuda soviética
Segundo Pyongyang, o teste foi bem-sucedido e não houve vazamento radioativo. ¿O teste nuclear foi realizado com 100% de nossa sabedoria e tecnologia¿, informou a agência norte-coreana ontem.
Apesar da declaração, a bomba não seria ¿100% nativa¿. Sabe-se que a base nuclear tecnológica da Coréia do Norte veio da antiga União Soviética, que ajudou a estabelecer um programa que remonta à década de 50 para seu aliado na Guerra Fria. Foram os soviéticos que construíram um complexo nuclear em Yongbyon ¿ onde até hoje o programa atômico está centrado ¿ enquanto cientistas norte-coreanos estudavam na URSS.
Em 1979, Pyongyang começou a desenvolver seu próprio programa, construindo três novos reatores e mais usinas em Yongbyon. O país assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 1985, mas não concordou com as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica até 1992. A crise se agravou quando inspetores descobriram indícios de plutônio ¿ ingrediente para fabricação de armas. Em 2002, os EUA contaram que Pyongyang admitira em negociações que usava urânio enriquecido. Os inspetores da AIEA tiveram de interromper as visitas ao país naquele ano, sem completar a avaliação.
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