Título: 'Com 3,4%, zera o déficit nominal do ano passado'
Autor:
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 3

Nakano fala em corte de despesas e também em mecanismos de administração do câmbio

O economista Yoshiaki Nakano, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e um dos formuladores do programa econômico do candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, defendeu ontem uma redução drástica dos gastos públicos e a adoção, pelo governo, de mecanismos de administração do câmbio. Segundo Nakano, a atual política econômica tem inconsistências e é preciso migrar para um novo modelo. A transição, na sua opinião, deveria começar com um corte de gastos correntes do governo da ordem de 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas geradas pelo país).

Nakano afirmou que é difícil mensurar um patamar ideal de corte dos gastos, mas mencionou especificamente os 3,4% do PIB porque este é o atual déficit fiscal nominal (despesas menos receitas do governo, incluindo o pagamento de juros):

- Com 3,4% do PIB, zera o déficit nominal do ano passado. Neste ano e no ano que vem, é capaz de o déficit ser maior.

Economista não descarta intervenção no câmbio

Nakano afirmou que seria possível reduzir esse montante de gastos, da ordem de 3,4% do PIB, apenas com maior eficiência de gestão e combate ao desperdício na esfera de administração federal. O economista disse ainda que o corte de gastos não teria efeitos recessivos. Mas, para isso, as mudanças na política econômica precisariam ocorrer de forma sincronizada, ou seja, o corte de despesas do governo viria acompanhado de uma redução dos juros e de uma valorização do dólar.

Na sua opinião, "os juros cairiam sozinhos" caso houvesse um corte nos gastos públicos, pois o próprio mercado financeiro veria a maior austeridade fiscal como uma "desobstrução do canal do crescimento econômico". Juros mais baixos fariam, por tabela, com que o dólar saísse do patamar muito baixo em que se encontra hoje. Mas o economista não descarta a necessidade de algum tipo de intervenção no câmbio.

- O governo precisa sinalizar claramente para o mercado que não permitirá a apreciação do real nem a volatilidade excessiva do câmbio - afirmou, em palestra ontem no Rio, no seminário Políticas Econômicas e Financiamento para o Desenvolvimento, promovido pela UFF e pela UFRJ.

Ex-secretário diz que expressou opinião pessoal

Para Nakano, os juros altos e o dólar baixo travam o crescimento econômico. Sem entrar em detalhes de quais mecanismos poderiam ser usados no que ele chamou de "flutuação administrada do câmbio", Nakano citou o exemplo de outros países, como os Estados Unidos, onde, segundo ele, há um fundo de estabilização cambial. Ele afirmou que a intervenção só seria necessária caso o dólar caísse, e não se a moeda subisse:

- Essa é a minha opinião pessoal. Só eu falo isso - destacou Nakano, dando a entender que não se tratava da posição oficial do programa de governo do candidato Alckmin.

Quanto à redução dos gastos públicos, Nakano explicou que a medida abriria espaço para que o governo voltasse a investir em infra-estrutura. Segundo ele, o Estado brasileiro se apropria do equivalente a 44,8% do PIB. Esse montante se refere a 37,4% de carga tributária, 3,4% de déficit fiscal nominal e mais 4% de outras receitas, como dividendos de estatais ou aluguel de imóveis do patrimônio público.

O economista citou sua experiência à frente da Secretaria de Fazenda de São Paulo (na gestão Mário Covas) para mostrar que é possível cortar gastos com melhor gestão da máquina:

- Aprendi lá em São Paulo que há tanto desperdício, tanta ineficiência que, quanto mais você cortar, mais aparece lugar para cortar.

Segundo Nakano, antes do início de sua gestão na secretaria, o estado tinha um déficit de R$27 bilhões. Em 1995, foi reduzido para 2,8% do orçamento e nos anos seguintes houve superávit.