Título: Alckmin desautoriza meta: 'Pelo governo só falo eu'
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Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 3

Coordenador de programa de governo de tucano diz prever redução de 4,4% em quatro anos

BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, reagiu contrariamente à declaração de um responsáveis pelo seu programa de governo na área de economia, Yoshiaki Nakano, de que seria possível cortar 3,4% do PIB num eventual primeiro ano do governo tucano como forma de reduzir as despesas governamentais. Demonstrando irritação com a sugestão de Nakano, tido como um possível ministro da Fazenda caso o PSDB vença a eleição, Alckmin desautorizou o assessor.

- Não vai cortar. Isso não consta do meu programa (de governo). Não tem nada disso. Pelo governo só falo eu - disse ele, antes de participar de um evento com prefeitos tucanos de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Também o coordenador do programa de governo do PSDB, João Carlos Meirelles, disse ontem à noite que o partido trabalha apenas com a possibilidade de uma redução de 4,4% do PIB, mas em todo o mandato, de quatro anos. Segundo ele, esse é o patamar estabelecido no plano de governo e que obedece às metas estabelecidas "em convergência" entre os três partidos aliados à candidatura Alckmin.

- O déficit acumulado que se tem hoje é de 4,4%. Com toda a tranquilidade, acho que é possível reduzir esse patamar nos próximos quatro anos - disse ele, para quem a declaração de Nakano de reduzir 3,4% do PIB logo no primeiro ano é um "mal-entendido".

- Não estou dizendo que não há espaço para uma redução de 3% no primeiro ano, mas sim que isso não está cogitado por nós. Não há qualquer hipótese nesse sentido - disse ele.

Os tucanos se uniram ontem para reagir ao que classificaram de "jogo sujo" e "terrorismo" do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O vice-governador eleito de São Paulo, deputado Alberto Goldman (PSDB), rebateu ontem os ataques dos petistas à proposta econômica apresentada por Nakano:

- Nakano tem o direito de falar o que pensa. Mas ele é o ministro da Fazenda do Alckmin? Estão tentando transformar uma entrevista do Nakano em projeto do governo Alckmin, e não é.

Após reunião com parte da bancada do PSDB, Goldman disse que a campanha de Alckmin fará um trabalho intensivo nos estados para rebater as acusações de que o tucano pode privatizar empresas públicas como Petrobras e Correios, caso seja eleito. Goldman se referiu aos petistas que estariam difundindo essa versão como "filhotes de Goebbels", em referência ao ministro da propaganda nazista. Afirmou que o programa de Alckmin não fala em privatização, mas defendeu as que foram feitas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, como a da Vale do Rio Doce.

- A Vale era uma empresa mal gerenciada, a lucratividade era baixíssima. Os controles sobre as empresas públicas dificultam seu funcionamento.

Segundo Goldman, o PSDB não pensa em privatizar a Petrobras porque seria trocar um monopólio público por um privado. Ele afirmou, no entanto, que se ela fosse uma empresa privada seria muito mais lucrativa.

- Se a Petrobras fosse gerenciada pelo setor privado, dava o dobro de lucro ou mais.

No Senado, tucanos se revezaram na tribuna para defender Alckmin. O coordenador da campanha, Sérgio Guerra (PSDB-PE), divulgou nota para desmentir a boataria e condenar o comportamento do PT e de Lula:

"Lula e sua campanha continuam com o jogo sujo de espalhar boatos e mentiras sobre a campanha de Geraldo Alckmin. Hoje, a tentativa é imputar a Geraldo Alckmin a intenção de promover cortes indiscriminados de gastos. A orientação do futuro presidente Alckmin é clara: é destinar mais dinheiro para a saúde, mais dinheiro para a educação, mais dinheiro para a segurança, mais dinheiro para as estradas, mais dinheiro para o desenvolvimento. E mais: fazer valer mais os recursos existentes, com uma administração mais eficiente. Com combate sem tréguas ao desperdício e à corrupção".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), subiu à tribuna pelo menos quatro vezes e em todas elas fez questão de denunciar a "escalada de mentiras" arquitetadas com o objetivo de prejudicar Alckmin.