Título: Marco Aurélio Garcia afirma que corte poderia levar o país à recessão
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 4

PT usa palestra de assessor tucano para reforçar discurso contra Alckmin

SÃO PAULO. O corte de R$60 bilhões no Orçamento da União, ou 3% do PIB, provocaria recessão econômica, inoperância do governo, prejuízos aos aposentados e interrupção do processo de redução da pobreza. A avaliação foi feita ontem pelo coordenador da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição e presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, no site do partido.

A nota, embasada em informações do governo, é uma resposta às declarações do economista Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda de São Paulo, apontado como possível ministro da Fazenda em caso de vitória de Geraldo Alckmin (PSDB).

"Alckmin quer levar o país à recessão e o governo federal à inoperância. Este é o sentido da proposta de ajuste fiscal feita hoje (ontem) por seu assessor econômico, Yoshiaki Nakano", diz a nota assinada por Garcia.

Ele lembra que o valor representa 13% do Orçamento da União para 2006, que é de R$454,5 bilhões. Segundo o presidente do partido, sem reforma constitucional a única maneira de efetuar o corte seria contingenciando as verbas para custeio e investimentos dos ministérios. No Orçamento de 2006, o valor total destas verbas é de R$82,7 bilhões.

"Nakano aponta o 'deficitário sistema de Previdência Social' como um dos principais alvos deste corte monumental, além de não ter identificado o que entende por 'gordura' na burocracia pública. Em outras palavras, o possível futuro ministro de Alckmin propõe a paralisia da máquina administrativa, com três conseqüências graves:"

"1) reduzir benefícios conquistados pelos idosos, como a melhoria do salário mínimo concedida pelo governo Lula, que foi criticada por vários economistas tucanos;"

"2) interromper o processo de redução de pobreza e desigualdade registrado nos últimos quatro anos, detectado em estudos da FGV, Ipea e BNDES;"

"3) provocar séria recessão, já que haveria queda na renda da população e nos investimentos públicos alavancadores da economia", diz a nota.

As declarações de Nakano explicitam as diferenças entre petistas e tucanos na concepção econômica. Enquanto o ex-secretário de Alckmin fala em corte de R$60 bilhões, o programa de Lula propõe aumento dos atuais 19,5% para pelo menos 25% da taxa de investimento. Este é o único número citado no programa petista.

Na apresentação do documento, em agosto, a coordenação da campanha de Lula defendeu o aumento de gastos públicos nas áreas sociais como fator de indução ao investimento.

Para 2006, o governo Lula, que havia realizado uma gestão austera nos três primeiros anos de mandato, reservou medidas com custo adicional de R$16,5 bilhões aos cofres públicos. O número de beneficiados chega a 54,5 milhões de pessoas, 43% do eleitorado. A maior parte das medidas foi voltada para as classes de menor renda, como o aumento real do salário mínimo e a ampliação do número de beneficiários do Bolsa Família, mas também há benefícios para a classe média e setores formadores de opinião, como os funcionários públicos. Os reajustes diferenciados beneficiaram 1,7 milhão de servidores civis e militares do Executivo, com custo adicional de R$6,2 bilhões no Orçamento deste ano e R$10,7 bilhões em 2007.

Alckmin quer levar o país à recessão e o governo federal à inoperância. É o sentido da proposta de ajuste fiscal

MARCO AURÉLIO GARCIA