Título: Alckmin: 'Esses ministros só sabem fazer boatos'
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 9

Em ato de campanha com Aécio e Itamar em Minas, candidato tucano acusa Lula de mentir para prejudicá-lo

BELO HORIZONTE (MG). Num evento em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, em companhia do governador Aécio Neves e do ex-presidente Itamar Franco, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é tolerante com atos ilícitos, demonstra sinais de desespero quando "diz mentiras" contra a candidatura do PSDB, e transformou o governo federal em comitê eleitoral ao convocar o primeiro time de ministros para sua campanha à reeleição.

Ao rebater a declaração feita por Lula de que os tucanos seriam demolidores de patrimônio público, Alckmin reforçou o tom bélico que domina a campanha para Presidência da República no segundo turno, e abriu a artilharia:

- Isso é desespero e mentira. Aliás, ele disse outra mentira, a de que vamos privatizar o Banco do Brasil, a Petrobras e a Caixa Econômica Federal. Infelizmente, a campanha do Lula é essa mentira sem parar - disse o candidato.

Acompanhado de Aécio e Itamar no palanque, Alckmin responsabilizou o governo pelo pífio desempenho da economia. E criticou a forma como o presidente faz campanha.

- O Brasil não cresceu como deveria porque tem um governo que não funciona direito, e porque hoje esse governo está mais para comitê eleitoral. Os ministros, em vez de trabalhar, só sabem fazer boatos - disse, referindo-se a declarações de petistas de que ele, se eleito, acabaria com o programa Bolsa Família, privatizaria bancos e perseguiria funcionários públicos.

- Essa lambança ética é muito triste - disse o tucano.

Tucano diz que violação de sigilo de caseiro é criminosa

Alckmin disse que não admite ouvir do petista que sua citação ao caseiro Francenildo Costa é uma grosseria. Numa nova resposta a Lula, o tucano voltou a falar sobre o caseiro que denunciou a presença do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci na mansão de Brasília onde políticos e empresários negociavam contratos com o governo.

- É impressionante a tolerância do presidente com atos ilícitos. O que foi feito com o caseiro não é uma grosseria. O que aconteceu foi um crime, pois houve a violação do sigilo bancário, cometida pela Caixa Econômica Federal e pelo Ministério da Fazenda.

Tucano já fala em passar bastão para Aécio em 2010

'Isso é uma corrida de revezamento', diz o candidato ao levantar o braço do governador

BELO HORIZONTE (MG). Na busca por votos em Minas Gerais, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, não economizou confetes para o governador reeleito do estado, Aécio Neves. Em meio a elogios ao colega tucano, Alckmin não se furtou sequer de jogar no ar a idéia de Aécio concorrer ao Palácio do Planalto, em 2010. Alckmin disse que política é uma corrida de revezamento, "onde um passa o bastão para o outro".

- O Brasil não pode perder tempo. Não pode continuar perdendo oportunidade e ficar parado mais quatro anos, só esperando 2010. Claro que nós queremos 2010. Claro que o Brasil precisa estar melhor e cada um dá um passo. Isso é corrida de revezamento, um vai passando o bastão para outro e cada um tem que suar a camisa, fazer o máximo pelo bem do nosso país. O PT teve a sua chance - disse Alckmin, levantando os braços de Aécio enquanto a platéia, formada por 300 prefeitos de Minas, aplaudia e gritava: "Aécio 2010, Aécio 2010".

Aécio tenta minimizar palavras do candidato

Em Minas Gerais, Lula teve 50,8% dos votos e Alckmin, 40,67% - uma diferença de cerca de 3,3 milhões de votos. Cauteloso, Aécio procurou minimizar os efeitos políticos das palavras do candidato.

- Na vida do cidadão, vem um mês de cada vez, vem um ano de cada vez. Hoje temos uma só prioridade, que é a eleição de 2006 - disse.

Dentro do partido, Aécio disputaria com o governador eleito de São Paulo, José Serra, a futura indicação do PSDB para disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos. Tanto Aécio quanto Serra já teriam cobrado de Alckmin que, caso eleito, comprometa-se com o fim da reeleição, o que abriria espaço para que um dos dois pudesse concorrer.

De olho nesse eleitorado mineiro, Alckmin decidiu fazer do estado a primeira escala nesse segundo turno. No evento de ontem, o tucano direcionou as suas promessas de campanha para o eleitor mineiro. Primeiro, diante do presidente da Associação Mineira de Municípios, Célio Costa, prometeu aumentar os repasses do Fundo de Participação dos Municípios. Ainda disse que terá uma política agrícola, para tirar o setor da crise em que se arrasta há mais de 40 anos. Depois, enquanto criticava a política de recuperação de estradas do governo federal, foi taxativo.

- Vamos recuperar as estradas federais, e vamos começar por Minas, numa grande parceria - disse Alckmin.

"Aécio montou aqui um verdadeiro ministério"

Os elogios a Aécio não pararam na primeira declaração. Alckmin fez questão de elogiar a habilidade do governador mineiro em montar equipes.

- O Aécio montou aqui um verdadeiro ministério.

Antes do encontro com os prefeitos e militantes, Alckmin se reuniu reservadamente com Aécio no Palácio das Mangabeiras, sede do governo mineiro. Em cerca de meia hora, os dois combinaram o discurso que fariam minutos depois. O tom, acertaram, deveria ser pautado mais pelo caráter de apresentação de propostas que de ofensas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de críticas ao governo federal.

Alckmin abriu seu discurso com uma série de elogios às personalidades políticas de Minas Gerais. Saudou o ex-presidente Itamar Franco como um dos responsáveis pela estabilidade da moeda, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Também fez questão de chamar para a frente do palanque Eliseu rezende, a quem se referiu como "senador cívico". O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que teve seu nome envolvido no esquema do valerioduto, foi citado por Alckmin quando este fez elogios ao seu pai, Renato Azeredo.

Ainda ontem, Alckmin recebeu apoio de parte dos sindicatos ligados à Força Sindical em Minas Gerais. Segundo a entidade, 71% dos associados no estado embarcaram na campanha do tucano no segundo turno da eleição. (Flávio Freire)