Título: 'O PSDB não deveria ser candidato a nada'
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 10

Lula diz que a 'única coisa que ele sabe fazer é vender coisas' e chama de pequenez proposta de venda do Aerolula

BRASÍLIA. Em entrevista a emissoras de rádio da Rede Bandeirantes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a criticar o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e demonstrou ainda estar irritado com o tom adotado pelo tucano no debate na TV Bandeirantes. Lula classificou diversas vezes de pequenez a promessa de Alckmin de vender o avião presidencial, se eleito. E reforçou o discurso petista de que Alckmin e o PSDB só sabem privatizar estatais e que essa política será retomada caso voltem ao poder:

- A única coisa que ele sabe fazer é vender coisas. Ou seja, essa é uma cultura do PSDB. O PSDB não deveria ser candidato a nada. Eles deveriam ser candidato a (dirigir) uma empresa de vender empresas estatais, porque a única coisa que eles aprenderam a fazer no Brasil é vender as empresas estatais e, com o dinheiro das empresas estatais, pagar as dívidas que eles mesmo contraíram.

Ao ser cobrado por ter dado apenas duas entrevistas coletivas em quatro anos, fez um mea-culpa:

- Posso ter errado. Mas poucos presidentes da República nunca fizeram a quantidade de discursos que eu fazia todo santo dia. Mas vamos ver, se o povo me escolher, quem sabe eu possa dar mais entrevista.

Ao citar a promessa de Alckmin de vender o avião, não conteve sua irritação:

- Só um maluco é que acha que pode fazer viagem internacional de avião de carreira, viajando como presidente da República. É pequenez falar em vender o avião.

Lula diz que reforma política deve ser centro da discussão

No caso do escândalo do dossiê, Lula repetiu que nada sabia e disse desejar uma investigação profunda, insinuando que os petistas podem ter sido vítimas de uma armadilha.

- Nesse caso, quero saber o conjunto da obra. Porque, se tem uma pessoa que foi prejudicada por isso, fui eu, não foram os meus adversários. Quem é que arquitetou isso? Quem é que imaginou esse plano? Porque é uma história que envolve procuradores que já tinham participado de outros casos desses, que envolve delegados que já tinham participado (de outros casos) desses. Se tem um brasileiro hoje que tem interesse em saber, sou eu. Um presidente não investiga, não julga, não prende. O presidente da República espera que a polícia aja com a sabedoria que tem, e a Polícia Federal tem sabedoria para isso.

Lula ainda defendeu a reforma política.

- (A reforma política) tem que ser colocada como pedra principal na disputa que estamos fazendo neste país. Porque o erro que acontece na política brasileira não é de uma pessoa, de um partido, é de um sistema que está apodrecido. Qual a expectativa que tenho? De que os que vieram (eleitos) sejam melhores do que os que saíram. Abaixo, trechos da entrevista:

'Você tem que ir (ao 2º turno) com alegria e prazer'

SEGUNDO TURNO : "Todo mundo quer ganhar as eleições no primeiro tempo, ninguém quer ir para a prorrogação. Mas, quando ela acontece, você tem que ir com alegria e prazer, e disputar da forma mais serena possível".

DEBATES: "Confesso a vocês, e disse ontem (anteontem), que fiquei triste com o debate. Já debati com o Ulysses Guimarães, com Mário Covas, Paulo Maluf, Collor (Fernando Collor), Ciro (Ciro Gomes), Serra (José Serra), Garotinho (Anthony Garotinho). Eu imaginava que tivesse maior substância no debate".

AVIÃO PRESIDENCIAL: "Quando um cidadão vem dizer que um país do tamanho do Brasil não pode ter um avião, quando ele vem dizer à opinião pública, pensando que a opinião pública é desinformada, que temos quatro aviões... O avião que tínhamos tinha o apelido de Sucatão, que o presidente dele deixou de usar três anos antes de terminar o mandato. Aliás, o Fernando Henrique Cardoso foi justo quando me procurou depois de (eu ser) eleito e disse: 'Lula, vou comprar um avião e vou determinar as férias do presidente'. Eu disse: 'não faça isso; deixa a gente tomar posse que a gente decide o que fazer'. Somente quem não tem dimensão da política internacional é que pode falar uma coisa como ele (Alckmin) falou. A gente era multado em todos os aeroportos do mundo quando chegava. Nosso Sucatão ficava sobrevoando para encontrar alguém que desse autorização para a gente pousar. E o Brasil tem que ser respeitado".

ALIANÇAS: "Não existe essa história de dificuldade de montar parceria no Congresso. O povo elegeu as pessoas e elas estão aí. São com elas que você tem que trabalhar para aprovar os projetos".

NEGOCIAÇÃO COM PAULO MALUF NA CÂMARA: "O presidente não se compõe com A ou com B, nos compomos com a maioria no Congresso".

CASEIRO FRANCENILDO: "Primeiro, a grosseria abominável que foi feita contra o caseiro. É inimaginável você imaginar uma autoridade pública querer ver a conta de um caseiro. E tomei a atitude que deveria ter tomado na hora".

INVESTIGAÇÃO DO GOVERNO PASSADO: "Tinha muita gente que queria que eu fizesse uma verdadeira varredura no governo passado. Tomei a decisão de não fazer, porque não é o presidente que vai ficar fazendo varredura. Não fiz uma única denúncia de forma premeditada. Mas investigamos como nunca. E 80% delas são quadrilhas montadas há dez, 15 anos".

BOLÍVIA: "Se os bolivianos se sentem prejudicados, vamos sentar na mesa e negociar. O que acho desagradável é as pessoas tentarem fazer bravata com a Bolívia, um país muito pobre. No Brasil, tem um tipo de gente que adora ser bravo com os fracos e adora ser covarde com os fortes".