Título: GEDIMAR AGORA DIZ QUE FREUD NÃO TEVE ENVOLVIMENTO NO CASO DO DOSSIÊ
Autor: Bernardo de la Peña e Chico de Gois
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 12

Ele teria citado o ex-assessor porque delegado lhe prometeu liberdade

BRASÍLIA. O policial federal aposentado Gedimar Passos, preso com R$1,7 milhão no Hotel Ibis, em São Paulo, mudou sua versão sobre a participação de Freud Godoy ex-assessor do presidente Lula, na tentativa de compra do dossiê com supostos documentos que ligariam os tucanos à máfia dos sanguessugas. Em sua defesa no processo de investigação aberto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gedimar informa ter mencionado Freud por causa da falsa promessa de liberdade que, segundo ele, teria sido feita a ele pelo delegado federal Edmilson Pereira Bruno, responsável pelo depoimento.

Segundo Gedimar, o delegado tentou, durante o depoimento, buscar o envolvimento de integrantes da executiva nacional do PT no negócio com o dossiê. Ele acusou a PF de não permitir que seu depoimento fosse tomado na presença de um advogado e disse que foi impedido de telefonar para parentes ou advogados.

"Durante mais de uma dezena de horas o representado (Gedimar) foi mantido na sede da PF sem sequer ter sido expedido, naquele momento, o decreto de prisão temporária", escreveram os advogados de Gedimar em sua defesa. "A situação de absoluta irregularidade, uma vez inexistir flagrante delito, derivou na completa precariedade do depoimento, o qual em seu termo acabou por espelhar respostas circunstanciais e que refletem muito mais apreciações do perguntador do que veracidades do questionado, o qual se encontrava extenuado e moralmente abalado".

Na defesa, Gedimar disse que, sob a promessa de não ser detido, citou o nome de um membro do governo do qual se lembrava por tê-lo acompanhado num trabalho de segurança no comitê eleitoral da campanha do presidente Lula. Na nova versão, entretanto, ele diz que Freud não tinha qualquer envolvimento na operação de compra do dossiê.

PF lembra que Gedimar teve oportunidade de voltar atrás

O delegado Edmilson Bruno não foi localizado pelo GLOBO ontem. Mas policiais da Superintendência da PF em São Paulo disseram não acreditar que o delegado tenha cometido irregularidades durante o depoimento de Gedimar. Segundo a PF de São Paulo, Gedimar teve oportunidade de voltar atrás na acusação a Freud, mas não o fez. Ele prestou um segundo depoimento mas se recusou a falar a outros delegados da PF, dizendo que só falaria em juízo.

Bruno já está sendo investigado pela PF como responsável pelo vazamento das fotos do dinheiro apreendido no hotel e que foram divulgadas na véspera da eleição no primeiro turno. No depoimento anterior, em 15 de setembro, quando estava preso, ao ser perguntado sobre quem do PT havia lhe dado a missão de entregar o dinheiro aos emissários de Vedoin, Gedimar respondeu que "foi a mando de uma pessoa de nome Froude ou Freud que, segundo consta, tem uma empresa de segurança no Rio de Janeiro/SP".

Gedimar disse que foi convidado pelo ex-chefe do serviço de inteligência do PT Jorge Lorenzetti para analisar a autenticidade dos documentos que seriam entregues pelo empresário Luiz Antônio Vedoin. Na defesa, Gedimar apresenta Lorenzetti como seu único contato no PT. Ele insistiu que não conhecia os dois homens que foram ao hotel lhe entregar o R$1,7 milhão e não sabia informar a origem do dinheiro.

Já a PF acredita que o dinheiro foi levado por Hamilton Lacerda, ex-assessor do petista Aloizio Mercadante. A PF identificou Lacerda, pelas imagens do circuito interno de TV, entrando com malas no hotel.

(*) Da CBN, especial para O GLOBO

Virgílio quer que CPI convoque petistas

BRASÍLIA. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou ontem na CPI dos Sanguessugas requerimentos para que nove petistas envolvidos no escândalo do dossiê sejam convocados, entre eles o deputado Ricardo Berzoini, ex-coordenador da campanha de Lula e presidente licenciado do PT.

O senador quer convocar os ex-integrantes da campanha de Lula envolvidos no caso: Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Gedimar Passos, Expedido Veloso e Valdebran Padilha, além de Freud Godoy, ex-assessor da Presidência; Adésio de Almeida, vice-presidente de Crédito e Risco do Banco do Brasil, e Hamilton Lacerda, ex-assessor da campanha de Aloizio Mercadante. A CPI dos Sanguessugas só deve analisar os requerimentos na semana que vem.