Título: Justiça autoriza quebra de sigilo de Abel Pereira
Autor: Bernardo de la Peña e Chico de Gois
Fonte: O Globo, 11/10/2006, O País, p. 12

Empresário, sob suspeita de envolvimento no caso do dossiê, é acusado de intermediar venda de ambulâncias na gestão Serra

BRASÍLIA e CUIABÁ. A Justiça Federal de Mato Grosso autorizou ontem a quebra do sigilo bancário e telefônico do empresário Abel Pereira. Ele foi apontado por Luiz Antônio Vedoin como intermediário entre os negócios da Planam, empresa que comandava venda de ambulâncias superfaturadas, e o Ministério da Saúde na gestão do ex-ministro Barjas Negri - também ex-secretário executivo na administração de José Serra.

Abel Pereira tem negócios em Piracicaba, hoje governada por Barjas Negri. A PF investiga também contatos que ele que teria tentado fazer com Vedoin, enquanto ele negociava a venda dos papéis aos petistas.

Os investigadores suspeitam que Abel possa ter tentado comprar os papéis de Vedoin. O dono da Planam teria uma lista de dez cheques que indicariam transferências para contas que teriam sido indicadas por Abel. Os advogados do empresário paulista negam o seu envolvimento no episódio e na negociação do dossiê. Ontem, o próprio Abel protocolou na PF um ofício pondo seu sigilo fiscal, bancário e telefônico à disposição.

- É para mostrar que ele não teve qualquer ligação com o então ministro Barjas Negri ou qualquer negociação com o grupo Vedoin - disse o advogado do empresário, Eduardo Silveira Melo Rodrigues.

Pelo menos 30 corretoras são investigadas pela PF

O inquérito para investigar Abel corre em paralelo ao instaurado para descobrir a origem do dinheiro apreendido. Pelo menos 30 casas de câmbio e corretoras estão sendo investigadas pela Polícia Federal na tentativa de descobrir de onde saíram US$110 mil dos US$248,8 mil usados para a compra do dossiê contra tucanos.

Ontem, o delegado Luiz Flávio Zampronha, da Divisão de Combate aos Crimes Financeiros, reuniu-se em Cuiabá com o delegado Diógenes Curado Filho, responsável pelo inquérito do dossiê, para trocar informações. A eles se juntou outro delegado, Emanoel Henrique Balduíno, do setor de inteligência da PF.

A PF chegou a 30 casas de câmbio e corretoras depois de levantar para quem o banco Sofisa repassou regularmente parte dos US$15 milhões que adquiriu legalmente do banco Commerzbank de Frankfurt. Os policiais querem identificar, também, quem efetuou saques nessas casas com valores superiores a US$10 mil.

Ontem, o delegado Diógenes pediu à Justiça a autorização para quebrar mais 100 sigilos telefônicos de linhas que teriam se comunicado com os números de Hamilton Lacerda, ex-assessor da campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo. Lacerda foi identificado pela PF, com base em imagens do circuito interno do hotel Ibis, onde Gedimar Passos e Valdebran Padilha foram presos com o dinheiro, como o responsável por entregar as notas aos dois. Ontem, a Justiça autorizou a quebra de sigilo telefônico de mais 650 pessoas que tiveram contato com os citados.

Com os novos pedidos, já chegam a 820 o número de solicitações de quebras de sigilo aos cadastros das companhias telefônicas. Até agora, entretanto, a PF ainda não conseguiu rastrear o caminho feitos pelos reais ou pelos dólares até chegarem na mão dos petistas.

A PF está cruzando dados telefônicos e bancários para tentar ajustar o foco das investigações. Os delegados já estão de posse da quebra do sigilo telefônico e bancários dos envolvidos no caso -- Hamilton Lacerda, Valdebran, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Expedito Veloso, Gedimar Passos e Freud Godoy.