Título: ALÍVIO NO PT, SURPRESA NO PSDB
Autor: Adriana Vasconcelos e Maria Lima e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 12/10/2006, O País, p. 3

Primeira pesquisa após debate na TV mostra Lula 11 pontos à frente de Alckmin

Enquanto os petistas comemoravam o resultado da pesquisa Datafolha, a primeira desde o debate entre os presidenciáveis na TV Bandeirantes, domingo, mostrando que subiu de sete para 11 pontos a vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os aliados do candidato do tucano, Geraldo Alckmin, admitiram a surpresa, mas tentaram minimizar a importância do fato.

Na pesquisa Datafolha, realizada na terça-feira em todo o país e divulgada ontem pela ¿Folha de S.Paulo¿, as intenções de voto no presidente Lula passaram de 50% para 51% ¿ dentro da margem de erro de dois pontos percentuais ¿ e as de Alckmin passaram de 43% para 40% em relação à pesquisa de 5 e 6 de outubro. Considerando os votos válidos (descontados os em branco, os nulos e os eleitores que ainda estão indecisos), Lula oscilou de 54% para 56%, e Alckmin de 46% para 44%, os dois dentro da margem de erro.

Para o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), a pesquisa não reflete ainda o clima favorável a Alckmin que eles dizem estar sentindo nas ruas.

¿ Essa pesquisa foi uma surpresa, à medida que não reflete o sentimento que se espalhou pelo país. Senti um ambiente de crescimento da campanha de Alckmin em todos os estados por onde passei. Acredito que as próximas pesquisas vão captar isso, como foi no primeiro turno ¿ disse Tasso, rebatendo as especulações de que a queda de Alckmin poderia estar vinculada à sua polêmica aliança com o ex-governador Anthony Garotinho ou mesmo ao tom mais agressivo adotado durante o debate com Lula.

PT vai martelar no ¿risco-Alckmin¿

Na coordenação da campanha da reeleição, o resultado da pesquisa Datafolha provocou certo alívio, mas a ordem é evitar o salto alto e não desacelerar a mobilização até o dia 29. O coordenador-geral da campanha do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que ninguém deve fazer corpo mole, e que a orientação geral, para os programas de TV e nas ruas, será martelar no ¿risco-Alckmin¿, para mostrar a diferença de projetos de governo.

¿ Temos que continuar mostrando que a disputa não é entre Lula e Alckmin, mas entre projetos não são a mesma coisa. A população está se dando conta do risco Alckmin e a orientação geral da campanha agora, nos programas de TV e nas ruas, é mostrar o que é esse risco, que Alckmin é um privatista nato, que vai cortar gastos e provocar recessão ¿ disse Marco Aurélio.

O coordenador da campanha admite que as declarações do economista Yoshiaki Nakano, um dos coordenadores do programa econômico da campanha de Alckmin, caíram como uma luva para reforçar esse discurso do ¿risco-Alckmin¿:

¿ O próprio candidato Alckmin tem dito que vai fazer um choque de gestão, que vai cortar gastos. Não temos culpa se seus assessores econômicos têm a língua um pouco solta sobre isso. Por mais que o Alckmin esteja reconvertido em relação a esse assunto, não dá mais para voltar atrás.

Tasso responsabiliza ¿fábrica de mentiras¿

Tasso disse que ¿o terrorismo¿ e as mentiras do PT e do governo Lula podem ser uma das possíveis causas da perda de três pontos pelo tucano na última semana. Para o presidente do PSDB, a maior obra do governo Lula é a fábrica de mentiras montada pelo Palácio do Planalto.

¿ (Isso) pode ser uma causa. Eles mentem sobre a origem do dinheiro que ia pagar o dossiê, sobre os aplausos da ONU e agora sobre as ameaças de privatizações do Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras. Mas mentira tem perna curta. Se mentira pagasse pena, o presidente Lula corria o risco de passar mais de 150 anos preso ¿ disparou Tasso.

O coordenador-adjunto da campanha tucana, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), disse que o resultado dessa primeira pesquisa pós-debate não preocupa e lembrou que os institutos já erraram.

¿ Aliás, essa pesquisa é altamente positiva para Alckmin. Porque ele está disputando com um homem que preside o Brasil, que tem uma mídia natural e que já vem de sete eleições ¿ disse o senador.

De acordo com o Datafolha, o tucano caiu em todas as regiões, enquanto Lula se manteve com o mesmo resultado da semana passada ou ganhou alguns pontos. No Nordeste, Lula passou de 67% para 71%, e Alckmin perdeu quatro pontos, passando de 28% para 24%. O tucano caiu ainda de 44% para 41% nas regiões Norte e Centro-Oeste e de 47% para 45% no Sudeste, empatando com Lula.

Para o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), um dado importante da pesquisa é o crescimento do presidente Lula nas camadas de renda superiores, que têm preferência pelo tucano. Mas, também cauteloso, disse que a eleição não está ganha.

¿ A pesquisa atingiu aqueles que viram o programa e avaliou o desempenho dos candidatos no debate, se ganharam ou se perderam. Quem assistiu ao programa é uma faixa de renda superior, que é onde estamos empatados ou estamos perdendo, na alta classe média. Mas pesquisa é fotografia do momento, instantânea, não quer dizer que Lula ganhou eleições ¿ disse Tarso.

O ministro anunciou a estratégia do presidente para os próximos debate com Alckmin: deverá insistir na cobrança de explicações de Alckmin sobre a ação do grupo criminoso que aterrorizou São Paulo no primeiro semestre.

¿ Na questão da ética queremos ir mais adiante, queremos examinar uma questão fundamental que ainda não foi debatida: a violência em São Paulo. Como um cidadão que governa quase quatro anos, e o seu partido teve 12 anos, não sabia da organização criminosa que tomava conta dos presídios em São Paulo e não sabia do preparo de uma insurreição que ceifou milhares de vida. Isto é um sinal de irresponsabilidade pública e é inadmissível ¿ afirmou Tarso.

Uma das preocupações da campanha, segundo o ministro gaúcho, é com a Região Sul, onde Lula perdeu para Alckmin. Apesar de a derrota persistir na última pesquisa, Lula melhorou seu desempenho nos estados da região, onde subiu de 33% para 38% das intenções de votos, enquanto Alckmin caiu de 57% para 54%. Tarso acredita que, no Rio Grande do Sul, Lula deverá chegar a pelo menos 40% dos votos.

¿ Quando o candidato Alckmin disse que ia vender o avião, ele teve aí muita confiabilidade, porque o grande treinamento que seu partido teve foi vendendo estatais. Venderam US$100 bilhões, e a dívida pública triplicou ¿ disse Tarso.