Título: NO RIO, MUITOS ATAQUES E POUCAS PROPOSTAS
Autor: Claúdia Lamego e Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 12/10/2006, O País, p. 14

Cabral e Frossard usam debate na CBN para trocar insultos e acusações, dispensando programas de governo

Troca de insultos, acusações sobre assessores supostamente envolvidos em crimes e ataques a alianças políticas. A hostilidade deu o tom do debate realizado ontem pela rádio CBN entre Denise Frossard (PPS) e Sérgio Cabral (PMDB). No primeiro encontro no segundo turno entre os candidatos a governador do Rio, as propostas ficaram em segundo plano. Em duas horas de programa, Frossard repetiu exaustivamente o bordão de que Cabral tinha o ¿bastão do governo Garotinho¿ na Assembléia Legislativa e o chamou de mentiroso. O peemedebista acusou a deputada de ser leviana, preconceituosa, elitista e despreparada para governar o estado.

Ao responder à primeira pergunta, Frossard acusou Cabral de ser co-autor de ações do casal Garotinho e chegou a chamar de lagoa a Baía de Guanabara, corrigindo-se em seguida.

¿ Ele (Cabral) se nega a enfrentar que esteve por oito anos neste governo e era o braço direito deste governo que não deu aumento, sucateou as escolas. Agora vem dizendo que vai consertar? ¿ disse a candidata, repetindo que Cabral tinha o ¿bastão da Assembléia¿.

Cabral lê quatro vezes parecer sobre deficientes

Em dois momentos, Cabral interrompeu a deputada para dizer que não era governador e não poderia ser responsabilizado pela gestão. Ao responder a uma pergunta sobre saúde, ele devolveu os ataques, lamentando a atitude da adversária.

¿ Outro dia, a senhora falou que ¿viajou até a Zona Oeste¿. A senhora foi visitar o hospital, nunca foi num lugar desse. Eu conheço essa realidade. A senhora tem como padrinho o prefeito da cidade, e a rede municipal está um caos ¿ disse Cabral, prometendo obras em hospitais da Baixada Fluminense.

Cabral leu quatro vezes trecho do parecer da deputada sobre um projeto de lei para criminalizar o preconceito a deficientes físicos. No texto, ela escreveu que não deve ser penalizado quem demonstra sentir ¿asco¿ ao ver uma deformidade. A deputada reconheceu que não soube se expressar e lembrou que pediu desculpas aos deficientes. Mas insistiu que o ato não deve ser criminalizado.

¿ Mas eu refiz (o parecer) com os portadores e coloquei no fim: ¿Entretanto, aquele que manifesta preconceito ou discrimina merece punição¿. O que eu não queria era deixar a oportunidade para punir por crime quem tem uma reação dessas, porque o senhor sabe que não pode ¿ reagiu a candidata.

Frossard e Cabral apresentaram poucas propostas concretas de governo. Cabral reafirmou que vai baixar o ICMS das micro e pequenas empresas e que 5% do imposto arrecadado nos portos do Rio serão revertidos em obras nesses portos. Frossard prometeu criar uma bolsa de estudos para alunos carentes e também um cadastro para ¿acompanhar a vida dessas crianças¿, que segundo ela não têm pai nem mãe para isso.

Cabral fez questão de elogiar os governadores de Minas, Aécio Neves, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, mas não mencionou Rosinha Garotinho. Ele lembrou que tem uma ampla aliança e citou Miro Teixeira (PDT), Benedita da Silva (PT), Edmilson Valentim (PCdoB) e Alexandre Cardoso (PSB). Os três últimos, mais André do PV, que abandonou a coligação de Frossard, estavam no auditório da rádio.

¿Para ir a São Gonçalo ela precisa contratar excursão¿

Cabral também não citou políticos aos quais se aliou ainda no primeiro turno, como Jorge Picciani e Eduardo Cunha (PMDB) e mesmo Paulo Melo (PMDB), que o acompanhava.

¿ Eu cometi uma indelicadeza ao não citar o Paulo Melo, que eu convidei ¿ desculpou-se Cabral num telefonema ao jornal horas depois do debate.

Cabral foi irônico ao acusar a adversária de despreparada, afirmando que ela está fazendo estágio para conhecer o Rio. Ele a corrigiu quando ela informou o número errado de escolas públicas estaduais. Após o debate, ele disse que, para ir a São Gonçalo, Frossard precisava contratar uma excursão da Soletur.

¿ Estou impressionado com sua falta de conhecimento dos assuntos do estado. A senhora não apresenta propostas. É uma principiante, começando a vida pública e vem com acusações desrespeitosas ¿ atacou.

Frossard reafirmou que vai acabar com nomeações políticas no governo e disse que uma pessoa, para ser atendida no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, tinha que ter indicação do deputado Coronel Jairo (PSC), que apóia Cabral:

¿ A máquina é pública e impessoal. Não tenho problema em convidar um político para secretário. O meu secretário de Segurança será um político. A técnica fica para a execução dessas políticas. Mas político não vai nomear delegado.

Frossard fala em distribuição de cargos na Assembléia

Sem citar nomes, Frossard disse que o propinoduto foi substituído por um esquema de distribuição a deputados de cargos de inspetor na Secretaria de Fazenda. Segundo ela, o dinheiro arrecadado por Rodrigo Silveirinha, condenado por corrupção, passou a ir direto para a Alerj e lá seria distribuído por ¿alguém¿ a alguns deputados:

¿ Não adianta dar incentivo fiscal se você tem um problema grave de divisão das inspetorias para deputados. Hoje vai tudo num duto direto para a Assembléia e alguém distribui lá dentro para alguns deputados.