Título: BERZOINI ALEGA QUE COMPRAR DOSSIÊ NÃO É CRIME
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 12/10/2006, O País, p. 17

Em defesa entregue ao TSE, presidente afastado do PT volta a negar envolvimento com documento contra tucanos

BRASÍLIA. Na defesa que entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 30 de setembro, o presidente afastado do PT, Ricardo Berzoini, voltou a negar qualquer participação, mesmo indireta, na negociação do dossiê contra candidatos tucanos. Apesar disso, Berzoini argumenta duas vezes que a compra do material não configura nenhum crime, embora as investigações ainda não estejam concluídas e haja indícios de que parte do dinheiro que seria usado na operação (R$1,7 milhão) tenha sido obtido de maneira ilegal. Segundo a Polícia Federal, Berzoini deverá ser ouvido amanhã em São Paulo. A assessoria do petista informou, no entanto, que a inquirição só deve ocorrer na próxima semana.

¿A imprensa brasileira explorou amplamente uma suposta compra de um dossiê, impingindo como crime tal atitude. Entretanto, no ordenamento jurídico brasileiro não há conduta típica descrita nas matérias jornalísticas¿, diz um trecho da defesa de Berzoini.

Segundo advogados ouvidos pelo GLOBO, há duas hipóteses de o episódio vir a configurar crime. A primeira, se for comprovada a origem ilícita do dinheiro apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Nesse caso, os envolvidos poderiam ser processados por crime de ocultação de valor proveniente de ilícito ¿ ou seja, um crime anterior, entre eles os crimes contra a administração pública e contra o sistema financeiro, que incluem corrupção e peculato, por exemplo.

Documento não menciona subordinados envolvidos

A segunda possibilidade é a de o dossiê conter falsas provas, configurando crime eleitoral de obtenção de documento material ou ideologicamente falso para fins eleitorais.

Na defesa, Berzoini, por intermédio de seus advogados, não faz menção ao fato de ter chefiado, no comando da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, três envolvidos na operação: Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso. Seus nomes sequer são citados. Segundo a revista ¿Época¿, ao tentar oferecer o dossiê a um repórter, Bargas revelou que Berzoini fora informado da negociação com o empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas.